quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Desejo um excelente ano novo para todos!


Embora considere o seguinte - "jamais haverá ano novo, se continuarmos a copiar os erros dos anos velhos" Luís de Camões (atrib.)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Começou a época dos balanços


Gostaria que a figura do ano de 2009 voltasse a ser a mesma de 2008. Significaria que Barack Obama teria conseguido mudar a forma de fazer política e que, já empossado e em funções, teria conseguido germinar as suas propostas nos EUA e no mundo.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Obituário


Na véspera de Natal, morreu Samuel Huntington, um dos mais eminentes cientistas políticos. Este professor de Harvard, entre muitos títulos, é conhecido pela sua obra "O choque das civilizações".

Neste livro, Huntington conclui que os conflitos no mundo, após a queda do muro de Berlim e o fim da guerra fria, já não vão dar-se por razões ideológicas (o velho debate esquerda-direita, socialismo-liberalismo, etc.) mas sim por razões civilizacionais relacionadas com as diferenças religiosas e culturais.

Huntington foi ainda conhecido pelos seus trabalhos relativamente aquilo que se chamou as "vagas da democratização", tendo a transição democrática de Portugal constado igualmente dos seus estudos.

O Wally do século XXI

~

Matt é um americano que abandonou o seu emprego na Austrália para partir em 2003 para uma viagem à volta do mundo - como tanta gente faz - mas que percebeu que poderia torna-se famoso à escala global com as suas danças parvas.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Feliz Natal 2008


Em 2008 foi assim!

Que saudades do Eanes e do Sá Carneiro...

Para este Natal vou pedir o regresso de uma crise das antigas, do FMI, do Carlucci, da guerra fria, dos bons contra os maus.

Se o Dias Loureiro é inocente, quem é que acredita no Pai Natal? Nem o Rambo...

domingo, 21 de dezembro de 2008

As faltas dos deputados



É pena que a realidade e a ficção dos criativos Gato Fedorento se aproxime tanto. Veja-se como ocupam Nuno Melo e Marta Rebelo dão conta dos seus deveres parlamentares.

O CDS/PP tinha agendado um debate sobre as alterações às leis da imigração, mas, durante a discussão e votação, houve um deputado deste partido que não estava: Nuno Melo, deputado e também vice-presidente da Assembleia da República. E que tal ir ao cabeleireiro às 16 horas? Foi a desculpa dada.

Por outro lado, noutro dia, em que a comissão de orçamento e finanças ia discutir a votação de um requerimento do CDS-PP para ouvir Vítor Constâncio sobre o "bail out" do Banco Privado Português e, por fim, votar a redacção final do Orçamento do Estado para 2009, do qual Marta Rebelo era a relatora, esta deputada do PS disse ter avisado que ia faltar por ter uma consulta médica, desvalorizou a questão das faltas dos deputados, considerando que “o que se passa no plenário” são questões “mais importantes do que a questão das faltas, que é política com ‘p’ pequenino”.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Bayer ou Bayern?


Cada vez que ouço falar em Bayern,a minha memória sonora confunde-me, e não raras vezes aflora-me a gigante alemã da industria química, a Bayer. Quando me lembro da Bayer, lembro-me da Aspirina, logo, dores de cabeça. Ou então quem não se lembra das utilíssimas latas de DDT em spray: BumBum - “cada bala mata um”?
E quando me lembro que o “meu” Sporting Clube de Portugal é a equipa da Europa (principais ligas profissionais) com a menor média de altura, e que no FC Bayern Munchen jogam usualmente a titulares: Resing (1,88m), Lúcio (1.88m), Van Buyten (1,96m), Demichelis (1,84m), Massimo Oddo (1.83m), Ottl (1,86m), Van Bommel (1,87m), Borowski (1,94m), Schweinsteiger (1,83m), Luca Toni (1,96m), Klose (1,82m)...
De repente sinto-me um mosquito!
P.s.: bom, pode ser que (com sorte) o Klinsman ponha o “ex-lampião” Hans Jorg Butt à baliza...

“O convívio da frustração”


A expressão não é minha, VPV (Vasco Pulido Valente), é, como Manuel Alegre, um homem do seu tempo e como tal o seu quadro de análise politica não comporta outros partidos que não sejam o PSD, o PS, o PCP, e o CDS(PP). Também partilha com Manuel Alegre (MA) uma outra característica, escreve pouco mas bem. Por vezes roça o disparate e é abundante em redundâncias. Mas cada um nasce para o que nasce, e estes dois senhores são pagos e bem pagos para deixarem impressos na folha pequenos momentos de génio por entre a imensa inutilidade que vão produzindo a miude.
É com esta fabulosa expressão que VPV sintetiza o que se passou na Aula Magna no passado fim-de-semana. Pelo meio da crónica que o jornal Público publica hoje, encontramos algumas patranhas de pura miopia politica como são as afirmações:
“fora do Partido Socialista o “milhão de votos” de Alegre não têm qualquer peso político”- não foi fora e contra o PS que MA os conquistou?
“o Bloco é um partido irrelevante” – será irrelevante a provável futura 3ª força politica no Parlamento, quando sabemos que por um deputado se perde ou ganha uma maioria absoluta, e que para as votações mais importantes são necessárias maiorias de 2/3 da Assembleia?
Bom, deixemos o senhor em Sr. em paz com o seu Pure Malt.
O certo é que este encontro das esquerdas não passou nem vai passar de um momento catalítico das frustrações de quem não fez mas que já não sente em condições de fazer a “Revolução Necessária”.
No barco de MA só cabe MA, e atendendo à tipologia (bloquistas e reformados) dos “mil” camaradas e amigos que com ele agonizaram no passado fim-de-semana, quem mais entrar para esse barco será peso morto e mais rápido Manuel se afundará em sua companhia.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Que triste figura


O Benfica se não encontra a necessária estabilidade competitiva, corre o risco de se fragmentar uma vez mais... fora da Taça de Portugal, fora da Taça UEFA com três derrotas consecutivas, duas delas em casa. Isto vai mal para os meus lados. Felizmente que não vi o jogo e que acabei a fazer coisas bem mais produtivas.

World Economic Forum

Quem quer ir ao WEF em Davos?

http://www.youtube.com/davos

E podem ver-se algumas intervenções interessantes no site. Outras são de uma pobreza de espírito assustadora.

Até Davos!

UM NATAL NOT MADE IN CHINA



Hu Jia é um cidadão chinês de 35 anos, casado, pai de um bebé de 1 ano. Médico de profissão, preocupado com a degradação ambiental e com a forma como são tratados os doentes com HIV na China resolveu fazer aquilo que todos os homens livres fazem quando querem mudar o que acham que está mal.
Em Abril deste ano foi condenado a 3 anos e meio de prisão, depois de ter enviado por videoconferência uma mensagem à subcomissão de direitos humanos do Parlamento Europeu.
Ontem, por motivos de “força maior”, não pode receber o Prémio Sakharov que lhe foi atribuído pelo Parlamento Europeu. Assim como, a sua mulher não foi autorizada sequer a comentar com o marido a atribuição da honorável distinção, da última vez que a deixaram visitá-lo na prisão, a 21 de Novembro.
E se fossemos todos presos por escrevermos ou dizermos o pensamos e nos preocupa?
Os poderosos que oprimem o seu povo na Republica “dita” Popular da China, só conhecem duas linguagens: a da força e a do dinheiro. Assim os “comunistas chineses” inventaram o fabuloso “um país, dois sistemas”.
A menos que mandem o “seu” bilião e meio por este Mundo a fora de kalashnikov ao ombro numa globalizante e novamente aterradora revolução cultural, a força da poder chinês, reside no dinheiro que lhe advêm da balança de pagamentos.
Se em Cuba, o boicote do “Imperialismo Americano” foi a desculpa para perpetuar um regime personalista e ditatorial, na China o sucesso económico não pode ser a razão pela qual se mantém o pais mais populoso do Mundo num quase total obscurantismo de liberdades e garantias individuais.
O meu desafio, e padrão de comportamento para este Natal e de hoje em diante, será evitar sempre que possível, o consumo de bens produzidos na China.
O meu dinheiro não vai pagar a manutenção da prisão do Prémio Sakharov 2008 e das centenas de milhar de outros seus concidadãos que ousam pensar e agir de acordo com a sua consciência.

Armas e Rosas

Será apenas pelo dinheiro? Axel e os recauchutados Guns N`Roses (da banda original só sobra o saltitam) claramente ironizaram ao intitularem o seu novo álbum de “Chinese Democracy”. Obviamente, a nomenclatura da Republica Popular da China logo protestou junto da diplomacia Americana e tratou de proibir, por todas as formas tecnologicamente possíveis, a reprodução de quaisquer músicas da “maldita” banda em território chinês. Um comportamento muito democrático de facto…
Como aqui a China ainda não chega e o Cá Calharás é um pássaro que vive, é certo que numa gaiola*, mas fa-lo por opção, e cuja porta deixa sempre aberta para promover “conbibio”, aqui vos deixa com este singelo momento musical de gosto e talento discutíveis mas indesmentivelmente eivado de oportunidade e de liberdade.

*Made in EU

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Manuel Alegre e o BPP


Descobri isto hoje no blogue Câmara Corporativa. Quem costuma ler a revista do Expressa, reconhecerá a publicidade institucional que o BPP faz há anos. Tomo agora conhecimento de que Manuel Alegre também lá escreveu e recolheu os seus devidos tostões, o que é bem revelador da incoerência de Manuel Alegre. Afinal aquilo que prega nos foruns da esquerda não têm correspondência com nenhum desprendimento em aceitar fazer publicidade a um "banco para fortunas".

Recordemos aquilo que disse há tempos no Parlamento:
"Estou em desacordo e [sinto] até indignação", acrescentou o deputado, lamentando que haja dinheiro dos contribuintes para salvar o BPP "e não haja uns trocos" para salvar o espólio do poeta Fernando Pessoa."Isso é que prejudica a imagem de Portugal", declarou.

Recordemos aquilo que disse no domingo passado na Aula Magna:
“Dante reservou os lugares mais quentes do Inferno para aqueles que em tempo de crise moral se mantivessem neutros. Suponho que há neste momento muitos lugares reservados. Para os neutros e para os cúmplices. E sobretudo para os que andaram a apregoar as delícias da mão invisível e da auto-regulação do mercado e agora recorrem à intervenção do Estado para socializar as perdas e preservar os seus bancos, as suas fortunas e os seus privilégios.”

“Coragem para estar ao lado dos desempregados e desfavorecidos e não para, à custa dos dinheiros públicos, salvar um banco privado que administra grandes fortunas.”

“Um grande português chamado Antero de Quental falou do socialismo como protesto moral contra a injustiça e a exploração. Foi há muito. Mas continua a ser uma boa inspiração para todos nós. Os explorados, os oprimidos, os deserdados da vida foram e são a razão de ser da esquerda. É por eles que estamos aqui, não pelas grandes fortunas, desculpem-me a insistência, do Banco Privado Português.”

Coerente, não é? Respeito Manuel Alegre, o seu percurso e o seu contributo para a democracia. Mas são este tipo de coisas que me fazem desconfiar de Manuel Alegre e da consistência da mensagem política que pretende fazer passar para a sociedade portuguesa.

Concursos muito pouco públicos...


A quantidade de designações de cursos superiores em Portugal parece obedecer à segunda lei da termodinâmica, ou seja com o tempo a confusão aumenta e não tarda nada não se encontrarão dois cursos com a mesma designação. Mas o objectivo deste post não é lamentar-me sobre a falta de organização na oferta de cursos em Portugal, mas mais reflectir sobre os mecanismos de contratação de pessoal na Administração Publica.

Notícia o Público aqui, que o Ministério da Educação alargou o prazo de colocação de professores para 4 anos, como tinha já sido previsto e que também mudou a forma de colocação cíclica dos professores, para satisfazer necessidades pontuais. Aqui, passam as escolas a poder escolher de uma bolsa de recrutamento de professores disponíveis que serão colocados respeitando os critérios de graduação profissional e da manifestação das respectivas preferências.

Isto, à partida, parece-me uma excelente ideia pois não permite que as habituais areias na engrenagem (há quem lhes chame cunhas), possam fazer emperrar o sistema. Porque não alargar o sistema a toda a administração pública e, caso esta esteja interessada, à administração local?

O sistema actual de contratação para funções públicas, apesar de enquadrado por lei, no sentido de garantir a igualdade dos cidadãos, na prática permite, pela manipulação do conteúdo funcional e da área de licenciatura/formação, que os serviços escolham um indivíduo, muitas vezes pré-determinado ainda antes do concurso ser aberto.

Uma olhadela rápida à bolsa de emprego público, revelam-nos alguns exemplos:

Uma universidade contrata:
3 – Conteúdo Funcional:
Certificação da informação constante das bases de dados de alunos das Unidades Orgânicas;
Configuração da informação para efeitos de produção de diplomas;
Trabalho em rede com os serviços académicos das Unidades Orgânicas;
Tradução para inglês e verificação dos conteúdos do Suplemento ao Diploma;
Utilização do programa SIGES (Sistema Integrado de Gestão do Ensino Superior), nomeadamente das aplicações CSE – Controlo de Sistema de Ensino, CME – Controlo do Módulo de Estatísticas e SD – Suplemento ao Diploma;
Respostas a diversos pedidos de informação acerca de várias questões relativas ao Ensino Superior;
Apoio na elaboração de textos, a traduzir para francês e inglês, em resposta a solicitações externas.
4 – Requisitos Gerais:
4.1 – Licenciatura em Psicologia
5 – Requisitos Especiais:
Boa fluência falada e escrita em Inglês e Francês.
6 – Condição de admissão:
Experiência comprovada de, pelo menos 2 anos, nas áreas referidas no ponto 3.

Aqui colocam-se várias questões:
Porquê uma licenciatura em psicologia quando o trabalho é claramente de gestão de dados? Porque não alguém com uma licenciatura em sociologia, em história, em matemática aplicada?

Serão todos os requisitos apresentados fundamentais? Quantos portugueses os poderão cabalmente preencher e provar experiência de dois anos? Aqui a resposta é fácil... Provavelmente apenas 1!

Outro exemplo:
Universidade contrata...
Conteúdo Funcional: apoio à integração profissional dos licenciados, apoio aos órgãos de gestão, relações externas nomeadamente com empresas,etc
Habilitação Literária: Licenciatura
Descrição da Habilitação: Direito

Aqui já foram mais comedidos em termos da experiência exigida, limitando-se a pedir experiência na área e bons conhecimento de línguas estrangeiras.

Mas novamente se pergunta! Porquê direito e não relações públicas, psicologia, assessoria de direcção ou qualquer um outro?!

É tragicamente curioso que o serviço que visa facilitar a inserção na vida activa de diplomados desta universidade, seja o primeiro a condicionar o seu emprego.

E estamos a falar de instituições de ensino superior, que teriam todo o interesse em combater este tipo de afunilamentos de forma a ampliarem as oportunidades de emprego dos seus diplomados. Infelizmente a prática é generalizada a toda a administração e num concurso público, com poucas vagas, assume-se sempre que estas já estarão "ear marked" ou pré-destinadas.

A realidade é cruel. Quantas mais designações para formações superiores, mais fácil é condicionar um concurso.

Existem boas práticas lá fora... por exemplo, no Reino Unido, as primeiras fases de selecção são anónimas e assim quem está a seleccionar os candidatos apenas tem acesso às suas qualificações académicas e profissionais, desconhecendo o nome, etnia, sexo, idade e todas as outras informações pessoais.

Na Suécia, onde grande parte da administração está dividida em agências, a contratação é feita por uma secção especializada que recebe os requisitos por parte dos serviços e coloca os candidatos usando técnicos especializados em recrutamento e selecção.

Na notícia referida no início, a Ministra da Educação refere a ideia do reforço da autonomia das escolas mas propõem um sistema centralizado para que estas escolham os seus professores. Não posso deixar de concordar e de dizer que ao nível da contratação de pessoal, outros ministérios deveriam seguir o exemplo, pelo menos até à altura em que Portugal deixe de ser o país da "cunha e do jeitinho".

Alegre ou triste? Uma amena cavacada.


"Encontro das esquerdas", tanto espalhafato para quê?
1. Manuel Alegre quer criar um novo partido.
2. Manuel Alegre quer ser presidente da República.
3. Manuel Alegre quer aparecer na televisão.
A terceira hipótese, aceito-a como motivação supletiva de um ego que não cabe dentro do homem, um homem à imagem dos seus livros: grandes em alma, parcos em trabalho.
Apesar dos pesares, não se daria então a tanto labor, só para "aparecer", o seu "mais de um milhão de votos" fazem-no sonhar mais alto.
A primeira hipótese, anda ele a tentar convencer toda a gente, que é o que de facto pretende. Bluff de um velho jogador. Quereria o Bloco um Bloco geriatrico à compita? E seria para isso que havia patrocinado estes badalados "encontros das esquerdas"? Estaria o camarada Carvalho da Silva presente no germinar de semelhante organização? Temo bem que a esta hora, tanto o secretário-geral da CGTP como Francisco Louçã, saibam bem mais das reais intenções do deputado poeta do que o próprio PS, do qual o Manuel Alegre se vai afastando por questões "sanitário-politicas".
Mas será assim mesmo, ou estaremos nós a assistir a uma gigantesca encenação?
Onde está o perigo para a maioria absoluta do Partido Socialista, à esquerda ou à direita?
Afrontamento do governo com Belém por causa dos Açores, tanto espalhafato para quê?
E se um PS aparentemente esquizofrénico conseguisse ser em si mesmo e para o eleitorado de esquerda, o seu tutor e o seu carrasco?
Reparem:
Pode o PS de Sócrates estar contra Alegre?
- Pode, mas não deve.
Pode o PS de Sócrates estar contra Cavaco?
- Pode, mas não deve.
E se o PS de Soares estiver, como está, com Alegre e geneticamente contra Cavaco? Deve o PS de Sócrates estar contra Cavaco, agradar "discretamente" a Alegre e apontar já às Presidenciais de 2011 com as legislativas de 2009 sempre em "ponto de mira"?
- Deve estar, pode estar, e desconfio que está.
Os efeitos positivos, à esquerda, que um afrontamento com Belém pode trazer para o PS já no cenário das legislativas, são o efeito cénico que faltava para conforto dos corações mais à esquerda. Algumas medidas de carácter mais social, e uma pequena perseguição à alta finança à boca das eleições, serão os últimos retoques no "virar à esquerda" exigido por Alegre e acalentado pelo verdadeiro eleitorado PS.
Sócrates, Rui Pereira e Augusto Santos Silva, por vezes roçam a genialidade na estratégia politica, e Manuel Alegre será o candidato de todas as "esquerdas", PS incluído, às Presidenciais de 2011.

Anuncio de uma formiga derrotada.



A esquerda polariza-se, e a câmara de Lisboa é o balão de ensaio para o braço de ferro das legislativas. As formigas, umas mais proletárias que outras, tratam de minar o formigueiro das vizinhas. O Zé não faz falta ao Bloco, não quis ser terrorista, continuou a ser o "Zé", e já tem uma Roseta para o seu lugar. E assim se vê a força de PC que apresentará uma candidatura orgulhosamente só, fracturando ainda mais o eleitorado à esquerda do PSD.
A cigarra abre as asitas e lá voa para o poleiro que em tempos abandonou. A esquerda "anti-poder" rejubilará, por mais uma vez ter feito o trabalho da direita e Santana será de novo o "Presidente da Câmara" putativo candidato a tudo e mais alguma coisa outra vez.
A utilidade de Santana para a direita é óbvia, a futilidade da acção politica do Bloco do PC e dos Alegres para a esquerda em Lisboa ameaça ser ainda mais evidente.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Está confirmado

O reizinho de Portugal vai voltar. Agora que a comissão política do PSD deu carta de foral a Pedro Santana Lopes, vai voltar a política festivaleira.

Gostei sobretudo da forma como Castro Almeida, vice-presidente do PSD (quem?), assinalou o regresso de Santana Lopes. Pretende-se que Santana Lopes tenha a “oportunidade de retomar o mandato que interrompeu” e fica-se já a saber que o PSD considerará “incompatível” a candidatura à presidência da Câmara Municipal de Lisboa com a candidatura ao lugar de deputado nas eleições legislativas de 2009.

Está visto: o PSD dá uma última oportunidade a Santana Lopes. Vamos ver em que é que isto dá.

Dona Branca e o risco privado


Tem sido notícia a calote provocada por um senhor chamado Bernard Madoff, que durante anos foi o responsável máximo do NASDAQ, a bolsa das novas tecnologias de Nova Iorque, e que agora parece ser responsável por uma fraude de 50 mil milhões de dólares (37,5 mil milhões de euros).

E voltamos ao mesmo... como foi possível na camada superior do sector financeiro embarcar num esquema tão básico e tão próximo daquele que a Dona Branca praticava nos anos 80? Por exemplo, na Europa estamos a falar de instituições tão respeitáveis como o BBVA, o Santander, o HSBC, o Royal Bank of Scotland, o UBS, o Credit Suisse, etc. Cada uma delas perdeu acima dos mil milhões de euros... melhor, perderam os seus investidores e depositantes.

Já agora: onde estão os arautos de que não devemos confiar as nossas poupanças à Segurança Social, porque esta está falida e não vai sobrar nada para nós?? Pois bem, os fundos de capitalização da Segurança Social pelos menos não correm o risco de sumirem e tiveram maiores rendimentos no último ano do que os fundos privados de pensões. Em Portugal, as perdas não foram muitas... mas € 16 milhões são sempre € 16 milhões... qualquer dia é menos arriscado ter as pensões de reforma investidas no casino.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Afinal alguém começou a fazer contas...

"Tou Zé? É o Teixeira... faz lá marcha atrás nisso das multas porque o tempo não está para isso!"

Público

Finanças recuam e anulam multas aos contribuintes a recibos verdes que entreguem declaração em falta

O Ministério das Finanças anunciou hoje que os contribuintes a recibos verdes que entreguem a declaração anual de IVA em falta até ao final de Janeiro ficam isentos do pagamento de multas e vêem o seu processo de contra-ordenação encerrado.

P.S.

Lá se vai a minha aposta no bloco central...

É Napalm, é napalm, queimam-se mais uns votos...


Notícia no Público
FERVE - Fartos/as d'Estes Recibos Verdes

Eis que chega aquele período do ano em que alguém nas Finanças, imbuído do mais genuíno espírito natalício decide arranjar maneira de melhorar os números da execução orçamental e arrecadar uns 50 milhões de euros adicionais para os cofres públicos. Como? Ora pedindo uma contribuição extra de 250€ a 200 mil do 1 milhão de Portugueses que se estima que trabalhem a recibos verdes (pelos vistos 50 destes trabalham para a Autoridade das Condições do Trabalho, como pode ser lido aqui).
Confesso que após dois dias de alguma pesquisa ainda não compreendi totalmente quais os fundamentos para as multas e se nomeadamente os trabalhadores sem contabilidade organizada seriam ou não obrigados e entregar a já tristemente famosa declaração anual.
Mesmo admitindo que a questão legal está formalmente do lado das Finanças não posso deixar de pensar que estamos perante um caso que vem contra os princípios da protecção dos direitos e interesses dos cidadãos e da proporcionalidade. Em primeiro lugar porque só agora avançar com as multas relativas a 2006? Caso as finanças tivessem agido em tempo útil em 2006, a questão já não se colocaria para 2007. Em segundo, não tenho dúvidas que os 200 mil que foram multados são os trabalhadores em que os níveis de rendimento não justificam a contratação de um contabilista para tratarem da sua relação com o fisco, porque os outros podem sempre, mesmo que multados, responsabilizar o contabilista pelo erro (os contabilistas possuem seguros profissionais para cobrir estes riscos). Os mesmos 200 mil que têm de suportar totalmente os custos com a segurança social e que, como é óbvio, não recebem subsídio de Natal.
Tenho familiares próximos que receberam este indesejado postal de Natal das Finanças e que tiveram de se ausentar do trabalho para irem para as filas das Finanças tentar perceber o que fizeram mal, como corrigir a situação e quanto afinal têm de pagar. Surpresa das surpresas... a cada funcionário das finanças uma explicação diferente, parece que eles próprios não estavam à espera desta no sapatinho.
No fundo para arrecadar 50 milhões em multas o Estado está a levar que milhares de pessoas se ausentem dos seus postos de trabalho (pois a maioria tem mesmo posto fixo e não são profissionais liberais). Com alguma facilidade se poderia chegar à conclusão que para amealhar 50 milhões o estado estará a perder outro tanto devido a quebras na produtividade, para além de estar a diminuir o rendimento disponível às famílias numa altura em que deveria estar a promover o contrário.
Finalmente, do ponto de vista político, a medida vai claramente custar bastantes votos ao partido no poder e de voto em voto se perde uma maioria absoluta...


P.S. ou tudo isto será estratégia para obrigar a uma coligação PS/PSD nas próximas legislativas?

Grandes reflexos, George!



Isto vai dar que falar... Vai ser o novo sucesso na PlayStation no próximo Natal "Shoe the Bush!"... imperdível!

George, estás em grande forma, mesmo com 62 anos de idade e dois mandatos presidenciais absolutamente fracassados.

Ops! Ele quer criar um partido!


No encerramento do fórum “Democracia e serviços públicos”, realizado ontem em Lisboa, Manuel Alegre defendeu que a “base programática” que saiu do encontro das várias esquerdas “é para ir a votos” e quando questionado sobre a criação de um partido político respondeu: “Nada está proibido pela lei”. Disse ainda que “com este PS assim” dificilmente será candidato.

Se Manuel Alegre avançar com a ideia de criação de um novo partido político, podemos estar à beira da fragmentação da esquerda portuguesa e do sistema partidário português. E voltar à ingovernabilidade do País que marcou o período anterior a 1987.

Tive oportunidade de ouvir e ver o discurso de Manuel Alegre ontem à tarde em directo na televisão. Acho que Manuel Alegre não é um homem deste tempo e que não sabe apresentar alternativas para a governação do nosso País. Além do mais, não deixa de cair no populismo fácil, por exemplo, quando é capaz, a meio do discurso, de se sair com esta: “Permitam-me que daqui saúde os meus camaradas socialistas desempregados ou em trabalho precário. Os meus camaradas socialistas que se sentem inseguros com a crise e ameaçados por novas falências. Os meus camaradas socialistas professores que como muitos outros lutam pela suspensão de uma avaliação absurda”. Esta é para sair bem nos telejornais, não é?

Camarada Manuiel Alegre, qual é a sua agenda? As eleições legislativas 2009 ou as eleições presidenciais 2011? Quais são as propostas alternativas para a governação do País que constituem a tal "base programática" que diz que tem de ir a votos em 2009?

sábado, 13 de dezembro de 2008

Ele anda por aí


Durão Barroso está neste momento a dar uma entrevista na RTP1 no dia em que o Governo apresentou a sua «iniciativa dirigida ao crescimento e ao emprego», um pacote de medidas de apoio à economia real nos domínios da sustentabilidade energética, do apoio às empresas através da redução da carga fiscal e da criação de linhas de crédito, da criação de condições de estabilidade e defesa do emprego e do reforço do investimento em escolas.

É clara a estratégia de mediatização da imagem de Durão Barroso em Portugal, quando estamos a 6 meses da eleição da nova equipa da Comissão Europeia. Não é por acaso que Durão Barroso tem aparecido mais vezes em entrevistas em Portugal. Ele procura capitalizar o (fraco) balanço do seu mandato à frente da Comissão Europeia.

Mas não se esqueça, dr. Durão Barroso, de quem deixou o País entregue a Santana Lopes em Julho de 2004, de quem escolheu a Europa em vez de Portugal, de quem foi atrás do protagonismo internacional... espero que os portugueses não se esqueçam.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Faz hoje 100 anos o mestre do cinema


As novas gerações podem não entusiasmar-se com os filmes de Manoel de Oliveira. Mas não ficam indiferentes ao percurso e à longevidade da obra deste mestre do cinema português. Foi em 11 de Dezembro de 1908 que nasceu Manoel de Oliveira, dois anos antes da implantação da República Portuguesa, seis anos antes de se dar início à I Guerra Mundial. É uma lenda viva do cinema mundial.

Só desde 2000, já rodou 8 filmes novos. Em 2009, apresentará o seu novo filme "Singularidades de uma Rapariga Loura", baseado numa obra de Eça de Queiroz.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Retoma

A indústria automóvel mundial está a sentir os efeitos nefastos da crise, motivados não só pela retracção do consumo privado como pelas dificuldades de financiamento junto do, também em crise, sector financeiro.

A General Motors, a Ford e a Chrysler, as três grandes empresas de Detroit, já conseguiram do governo americano também o seu plano de salvação (o famoso "bailout") que lhes permitirá sobreviver à crise.

Retomada a confiança daquelas empresas, já começam a ser preparados os novos anúncios publicitários.

Sessenta Anos



Faz hoje 60 anos que foi assinada a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Vale a pena relembrar o primeiro dos seus 30 artigos:

«Artigo 1.º
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade»

É pena que em Portugal as instituições públicas tenham passado ao lado desta celebração que as Nações Unidas já iniciou oficialmente há um ano atrás. Salvam-se algumas iniciativas de ONGs ou associações de direitos humanos. É pouco. Manifestamente pouco. Dirão: em tempo de aperto, os portugueses não têm tempo para celebrar textos proclamatórios dos direitos humanos.

Não deve ser assim. É preciso não esquecer, nunca esquecer, que a Declaração Universal dos Direitos do Homem assinala os direitos humanos mais essenciais e representa o estádio final a que todas as sociedades devem almejar no respeito pela dignidade da pessoa humana. E isso é uma marca intemporal, ontem, hoje e amanhã.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Não é de agora

Andou tudo escandalizado este fim de semana com as faltas dos Deputados do PSD, em particular de 30 Deputados numa importante votação de uma resolução da Assembleia da República sobre o sistema de avaliação dos professores. Todos sabemos que esta questão - tão recorrente infelizmente - só se tem mantido na espuma dos nossos media porque tem mostrado quão afiadas estão as facas na guerrilha interna do PSD.

Na última sessão legislativa, de acordo com dados oficiais, já os Deputados do PSD tinham sido os mais faltosos, dando 675 faltas. E quem não se lembra bem dos debates quinzenais na Assembleia da República com o Primeiro-Ministro em que os Deputados do PSD, uma vez terminada a intervenção do seu líder parlamentar, seja ele Santana Lopes ou Paulo Rangel, se levantam todos e viram costas ao resto do debate.

É triste a falta de qualidade da nossa democracia parlamentar, bem patente na qualidade dos nossos representantes parlamentares. Geralmente, é nas oposições que a democracia tem mais capacidade de recuperar o seu espaço. O PSD não tem sabido, porém, conquistar esse terreno.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A (in)felicidade dos portugueses


«Por outras palavras: será a infelicidade dos portugueses uma questão política? Se você acha que não, algo de errado se passa consigo. Provavelmente, o mesmo que se passa connosco. Os gregos, que sabiam qualquer coisa do assunto — dos dois assuntos, aliás — diziam que "a felicidade reside na liberdade, e a liberdade na coragem" (Tucídides).

Vamos lá por partes. "A felicidade é a liberdade" não só coloca a questão na política (ou seja, na forma de distribuir o máximo de liberdade possível pelo máximo de gente possível)mas também nos sugere que a liberdade é a capacidade de ter controlo sobre a própria vida. Como estamos em Portugal, sob esse prisma? Que poder temos para tomar decisões no local de emprego, por exemplo, ou entre vários trabalhos precários, sempre endividados, sempre com medo do chefe, sempre com salários baixos? Que acesso à cultura e à educação temos — são duas das mais importante condições de ampliação da liberdade, nada menos — quando fazer uma pós-graduação é caro e voltou por isso a ser socialmente condicionado?

Mas a segunda parte, "a liberdade é a coragem", nota que os entraves à felicidade não estão apenas nas condições sócio-económicas "externas", mas também dentro de nós. Algures no tempo, quando nos convencemos que a infelicidade era o estado normal das coisas, ganhámos medo. Medo de arriscar, medo de esticar a cabeça, de dizer qualquer coisa fora do lugar. Já repararam como o medo torna os humanos medíocres, e a mediocridade nos torna amargurados?»

por Rui Tavares, no Público (um destes dias), via mão amiga

sábado, 6 de dezembro de 2008

Regime Geral das Sanções Benfiquistas

Parece que este regulamento vigora nas camadas jovens do SL Benfica. Atente-se nas diferentes cotações das "chapadas no rabo do colega", "actos homossexuais", "não tomar banho (jogos fora)", "urinar no chuveiro", ou dos chamados "gases perturbadores"...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Retratos do Portugal Moderno

Ouço a notícia do Telejornal da RTP há breve minutos..."Em apenas poucos dias, o novo disco de Tony Carreira já alcançou dois discos de platina".

Sugestão para a semana

Para quem não sabe a noite Pecha Kucha é um "forum informal para a apresentação de trabalho criativo proveniente de diferentes disciplinas como arquitectura, design, artes gráficas, artes visuais, moda, etc". Teve origem no Japão quando Astrid Klein e Mark Dytham decidiram criar um evento que pudesse reunir criativos para apresentarem os seus trabalhos. Para reduzir a possibilidade de mológos longos e enfadonhos estabeleceram um formato original em que cada orador têm apenas 20 slides temporizados automaticamente para passarem de 20 em 20 segundos.

http://www.pechakuchalisbon.blogspot.com/

A próxima edição em Lx é já no dia 9 de Dezembro, pelas 21h30 no Museu da Electricidade.

Este está óptimo

Prémios precaridade

Não se esqueçam de votar...

http://www.premiosprecariedade.net

Os soundbytes são particularmente interessantes. Não nutro particular afecto pelo Grupo Jerónimo Martins nem pela Rita Blanco, mas está de facto muito bom... "pois..."

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Thomas Jefferson já dizia há 200 atrás...


“Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades que o levantamento de exércitos.
Se o povo americano alguma vez permitir que os bancos privados controlem a emissão da sua moeda, primeiro pela inflação, depois pela deflação, os bancos e as empresas que crescerão em seu redor, despojarão o povo de toda a sua propriedade até os seus filhos acordarem sem abrigo no continente que os seus pais conquistaram”
Washington, DC – 1802



A profecia do Sr. Jefferson até pode ter muita razão. O “jogo” financeiro e político até pode vir sendo viciado ao longo dos anos e, melhorado para servir o maquiavelismo que melhor suporta a avidez de lucro fácil, e a sede de poder. Mas uma coisa é certa, neste jogo só entra quem quer, as regras, ainda que em letras pequeninas, vêm lá todas. Está na hora do povo contrariar o paradigma em que todo o sistema foi suportado. Está na hora de responder com consciência, de que este jogo só é feito porque o povo o permite. Sob pena do Sr. Jefferson ter conseguido adivinhar o futuro 200 anos antes…

Agora sim !!!


... Vamos todos votar.


Candidata a Presidente do Benfica


Maria de Lurdes Robrigues

Qualificações: Habituada a Multidões

descontentes!!!...

PSD


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

E se Obama fosse africano?

E se Obama fosse africano?

Por Mia Couto

Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?

1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).

5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.

Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.



Jornal "SAVANA" 14 de Novembro de 2008

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Timor: à procura de um rumo

Foi hoje apresentado em Dili um relatório do Banco Mundial que revela que a pobreza "aumentou significativamente" em Timor-Leste entre 2001 e 2007.

De acordo com a notícia da Lusa, o relatório "Pobreza Numa Nação Jovem" conclui que metade da população timorense é pobre, vivendo com menos do equivalente a 60 cêntimos de euro por dia, e que um terço desses pobres vivem abaixo do limiar mínimo de pobreza, "ou seja, em situação de pobreza extrema". O nível da pobreza aumentou dos 36,3% indicados em 2001 para 49,9% da população.

"O aumento da pobreza é inteiramente devido ao declínio do consumo médio", explicou Gaurav Datt, da Unidade de Gestão da Redução de Pobreza no Sudeste Asiático do Banco Mundial. "Isto, por sua vez, está relacionado com o fraco desempenho do sector não-petrolífero da economia", adiantou o analista do Banco Mundial.

O Presidente da República, José Ramos-Horta, questionou na ocasião a metodologia e os resultados do relatório e defendeu a política de concessão de subsídios seguida pelo actual Governo. José Ramos-Horta, que assistiu à apresentação do relatório com a ministra das Finanças, Emília Pires, manifestou "algumas dúvidas" e teceu várias críticas aos "génios que têm e trazem todas as soluções" para Timor-Leste e outros países em desenvolvimento. "Algumas das críticas são absolutamente académicas e sem nenhuma ligação com a realidade", acusou o Presidente da República abordando a polémica em torno da concessão de subsídios pelo Estado. "Estou cansado dos génios que não se perguntam o que foi feito de errado ou se os conselhos não foram correctos", acrescentou o chefe de Estado.

Gaurav Datt referiu, a seguir, no início da sua apresentação, que "este relatório é tão bom como é possível obter em qualquer lado do mundo". "Só o próximo relatório poderá mostrar o impacto das medidas que o IV Governo Constitucional tem vindo a tomar na população de Timor-Leste", afirmou a ministra das Finanças.

Comentário: a comunidade internacional, e em especial Portugal, deve tomar atenção à forma como estão a apoiar a jovem nação timorense. Todos aqueles que em 1999 acreditaram e lutaram pela causa da independência devem ter presente que o esforço de mobilização da altura não chega. Um país não se ergue apenas com esperança e aspirações. Será preciso uma colaboração mais eficiente e menos assistencialista.

Ai Timor (IX)


"Tudo ainda não aconteceu"

A ferida feia no corpo de Ramos-Horta, quando o Presidente jazia numa poça de sangue depois de levar dois tiros de cano-longo, é um buraco tão fundo como a vergonha da nação. A ressurreição do profeta-Nobel criou um cristo gnóstico mas as chagas, nesta terra dilacerada, já não fundam religiões com a facilidade com que há dez anos fundavam Estados.

Díli, como um circo máximo de gladiadores, fervilha de jovens empurrados para a luta. Não têm emprego, educação ou perspectiva. Alguém lhes diz: "Não sois bandidos. Sois guerreiros." Mas dos aswain, os heróis das montanhas timorenses, resta-lhes a coragem física, um retalho de rituais dispersos por grupos rivais e a intransigente sacralização do seu território. Uma mistura inflamável para toda a nação. "A resistência continua mas agora sem rumo. E, sem rumo, só faz merda", diz o ex-assessor de Ramos-Horta para a Juventude José Sousa-Santos.

"Tudo ainda não aconteceu", avisava um "espírito" antepassado, pela voz de uma menina de Ermera, no Natal ainda inocente de 2005.

retirado de Pedro Rosa Mendes, "Timor-Leste A ilha insustentável", publicado em 25.11.2008 no jornal PÚBLICO

Ai Timor (VIII)


Não há nenhuma bandeira de Portugal no mar de Timor

Não há interesses portugueses em Timor-Leste, porque não há condições objectivas mínimas para fazer vingar qualquer interesse mensurável. Não, decerto, pelos critérios que vigoram em qualquer outro lado. Seria bom que isto fosse entendido pelos nossos responsáveis políticos. Portugal concedeu mais de 440 milhões de euros de 1999 a 2007 em ajuda ao desenvolvimento a Timor-Leste, que consome quase metade do bolo total da nossa cooperação.

Continuando uma tradição portuguesa, as projecções pós-imperiais e os fascínios com sucessivos aprendizes de Mandela ganham precedência sobre as informações que chegam dos operadores económicos no terreno. "Mas você nunca ouvirá um governante português dizer nada contra Timor", dizia, este ano, à mesa do café, um governante português de visita.

retirado de Pedro Rosa Mendes, "Timor-Leste A ilha insustentável", publicado em 25.11.2008 no jornal PÚBLICO

Ai Timor (VII)


"Entrar nas Nações Unidas é ficar politicamente inimputável"

Diz um diplomata que gosta do teatro de sombras javanês: "A ONU em Díli está em sintonia com os dirigentes timorenses. Todos fabricam fantasmas: o grande estratego, o grande diplomata, o grande guerrilheiro. Se não fosse assim, as máscaras cairiam e seria um grande embaraço..."

A UNMIT, uma das missões mais caras da ONU, afunda-se penosamente no mesmo vazio moral da liderança timorense. Três mil funcionários, polícias e militares, uma massa crítica formidável que poderia ser um contrapeso à incompetência e à insensatez, são esmagados pelo cabotinismo carreirista do chefe de missão, Atul Khare, e de acólitos que acham bem em Timor aquilo que jamais admitiriam nos seus países desenvolvidos. "Entrar nas Nações Unidas é ficar politicamente inimputável", explicou um alto-funcionário da UNMIT.

retirado de Pedro Rosa Mendes, "Timor-Leste A ilha insustentável", publicado em 25.11.2008 no jornal PÚBLICO

Ai Timor (VI)


Timor fala todas as línguas e nenhuma

Timor é uma ficção lusófona onde a língua portuguesa navega contra uma geração culturalmente integrada na Indonésia, contra a geografia, contra manipulações políticas internas e contra a sabotagem de várias agências internacionais. A reintrodução do português só poderá ter êxito com a cumulação de duas coisas: firmeza política, em Díli, sobre as suas línguas oficiais; massificação de meios ao serviço de ambas.

O Instituto Nacional de Linguística tem 500 dólares de orçamento mensal (exacto, seis mil USD por ano).

Na "Babel lorosa'e", como lhe chamou Luiz Filipe Thomaz, não se fala bem nenhuma das línguas da praça (tétum, português, inglês, indonésio). Uma língua é a articulação de um mundo e do nosso lugar nele. Perdidos da gramática e do vocabulário, uma geração de timorenses chegou à idade adulta e ao mercado de trabalho sem muitas vezes conhecer conceitos como a lei da gravidade, o fuso horário ou as formas geométricas, apenas para dar exemplos fáceis.

Aos poucos bancos com balcão em Díli (três) chegam projectos de investimento estrangeiro cujos planos de amortização não prevêem mão-de-obra timorense ou que contam os timorenses como peso-morto na massa salarial, ao lado de operários ou técnicos importados que responderão pela produção.

retirado de Pedro Rosa Mendes, "Timor-Leste A ilha insustentável", publicado em 25.11.2008 no jornal PÚBLICO

Ai Timor (V)


A ocupação indonésia foi implacável e a líderança timorense desmantela com zelo o que restava: a dignidade

O gangster mais conhecido do submundo de Jacarta nos anos 1990 - o timorense Hércules - é, hoje, o dono de obra no melhor jardim da capital. Os condenados por crimes contra a humanidade, como Joni Marques, da "Tim Alfa" (pôs Portugal de lenço branco em Setembro de 1999 com um massacre de freiras e padres), voltam às suas aldeias com indemnizações por casas que foram queimadas, enquanto eles estavam na prisão.

Na Comissão mista de Verdade e Amizade (CVA), foi a parte timorense, perante a surpresa indonésia, que tentou conseguir uma amnistia geral para os crimes de 1999, com uma persistência de virar o estômago.

O relatório da Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação (CAVR), uma monumentae historica de 24 anos de dor em sete volumes, espera há três anos a honra de um debate no Parlamento. Duas datas estiveram marcadas em Novembro, mas, nos bastidores, os titulares políticos tentam obter uma prévia sanitização das recomendações da CAVR.

Mari Alkatiri, Xanana Gusmão e José Ramos-Horta, ao sectarizar a memória da violência, desbarataram o capital obtido à custa de duzentos mil mortos (incluindo os seus entes queridos). A herança do genocídio é aviltada na praça como capital de risco e como cartão de visita. O resultado é uma distopia moral, um abismo de proporções tremendas em que se afunda um país cuja soberania teve, afinal, uma legitimidade essencialmente moral no seu contexto geográfico e histórico.

Os mortos são a parte nobre de Timor, merecedores de tributos em rituais, lutos e deslutos. Mas nesta terra de cruzes, valas comuns e desaparecidos, não houve ainda a caridade de 200 mil euros para instalar um laboratório de ADN que permitisse, enfim, devolver os ossos ao apaziguamento dos vivos.

A injustiça e a impunidade são valores seguros em Timor-Leste.

retirado de Pedro Rosa Mendes, "Timor-Leste A ilha insustentável", publicado em 25.11.2008 no jornal PÚBLICO

Ai Timor (IV)


A estratégia dominante na sociedade está tipificada no Código Penal. Chama-se extorsão

A simpatia pela "causa" timorense estagnou num ideal de sociedade e de pessoa que é desmentido pela frustrante experiência quotidiana. Ignorância, trauma, miséria e negligência, polvilhados com os venenos da complacência, paternalismo e piedade, banalizaram comportamentos de rapina, desonestidade, egoísmo e má-fé. A solidariedade, a generosidade e a gratidão estão em minoria. O que é marginal ou criminal noutros sítios faz, no Timor de hoje, catecismo nas repartições, nos negócios, no mercado, no trânsito, no lar.

A "liderança histórica" reina sobre um país intratável, em passiva desobediência civil, que pensa e age como se todo o mundo lhe devesse tudo e como se tudo estivesse disponível para ser colhido, do petróleo ao investimento e à atenção internacional. A cobiça e a inveja social infectam a esfera política, social, laboral e até familiar. "Aqui todos mandam e ninguém obedece", para citar um velho timorense educado em princípios que deixaram de ter valor corrente no seu país.
A "estabilidade" actual é comprada com um Natal todos os dias. Tudo é subsidiado, desde o arroz ao combustível, com uma chuva de benesses e compensações a um leque impensável de clientelas e capelas. A sociedade civil, digamos, é uma soma de grupos de pressão que recebem na mesma moeda em que ameaçam com incêndios e pedradas, desde os deslocados aos peticionários ou aos estudantes.

Todo esse dinheiro nada produz. Algum sai para a Indonésia, que os novos-ricos timorenses consideram um sítio mais seguro para investir. O que fica compra motorizadas e telemóveis. A Timor Telecom vai fechar o ano com 120 mil clientes na rede móvel, 12 por cento da população, uma taxa ao nível de países com o triplo de rendimento per capita do timorense.

A maioria dos timorenses não paga o que consome: água, electricidade (por isso o consumo aumenta 25 por cento ao ano, um ritmo impossível de acompanhar por qualquer investimento nas infra-estruturas), casa, terra, crédito, arroz. Este modelo de pilhagem e esbanjamento é insustentável na economia, na banca, na ecologia, na demografia e, a prazo, até na política.

retirado de Pedro Rosa Mendes, "Timor-Leste A ilha insustentável", publicado em 25.11.2008 no jornal PÚBLICO

Ai Timor (III)


O Estado independente é sabotado pelas estruturas da resistência

O Estado timorense funciona. Não significa, porém, que produza algum resultado, exceptuando a Autoridade Bancária de Pagamentos, única instituição onde a aposta na localização de quadros e a recompensa do mérito fizeram do futuro banco central um oásis de probidade nórdica.

As estruturas operativas do país são paralelas, oficiosas e opacas. Vêm do tempo da resistência e não houve coragem ou inteligência para as formalizar no jovem Estado.
Um caso óbvio é o dos veteranos das Falintil que não integraram as novas Forças de Defesa (FDTL). Em 2006, foi a 200 desses "civis" que o brigadeiro-general Taur Matan Ruak recorreu num momento crítico de sobrevivência do Estado. O Estado-Maior timorense está, porém, a contas com a justiça. Se passar da fase de inquérito, talvez o processo das armas e da milícia "20-20" abra um debate que devia ter acontecido antes. O lugar das "reservas morais" tem de ser formalizado, sob pena de não haver linha de separação entre patriotismo e delinquência. O major Alfredo Reinado ilustrou, de forma trágica, a facilidade deste salto.

As estruturas paralelas, porém, não são exclusivo do sector de segurança. O ex-comandante Xanana Gusmão não esconde que a Caixa, a rede clandestina de "inteligência", continua activa. As fidelidades, mas também os reflexos e atavismos da resistência, continuam em vigor. A "velha" voz de comando é, por vezes, a última instância e, mesmo em Conselho de Ministros, o último argumento é por vezes o voto de qualidade por murro na mesa.

José Ramos-Horta, diasporizado das Falintil e do mato até 1999, não tem cão mas caça com gato. O chefe de Estado, em linha com os símbolos maçónicos debruados nas suas camisas, é desde há dois anos o segundo "pai" da Sagrada Família. É uma sociedade fundada em 1989 pelo comandante Cornélio Gama "L7", que evoluiu para uma combinação algo mística de grupo religioso, partido político e milícia justiceira. Foi "L7", com a bênção de Xanana Gusmão, que apresentou a candidatura de Ramos-Horta à Presidência em Fevereiro de 2007, em Laga. Vários elementos da Sagrada Família integram a guarda do chefe de Estado.

A República timorense é limitada e sabotada pela recorrência do ocultismo, apadrinhamento, vassalagem e mentalidade de célula. No entanto, se não fossem as redes informais de confiança e de comando, por onde passam também os códigos de fidelidade e os valores de grupo, a RDTL já teria implodido.

Versão moderna dos Estados dentro do Estado: a última contagem, confidencial, dá conta de 350 assessores internacionais junto do IV Governo Constitucional.

retirado de Pedro Rosa Mendes, "Timor-Leste A ilha insustentável", publicado em 25.11.2008 no jornal PÚBLICO

Ai Timor (II)


A "identidade maubere" é uma ficção dispendiosa

A identidade "nacional" do espaço político timorense não existe, como explicam os bons historiadores, que sempre referem no plural os "povos" de Timor. Sob o mito do "povo maubere" existe um mosaico de dezena e meia de entidades etnolinguísticas que se definem por oposição (em conflito, separação, desconfiança, distância) ao "outro", mesmo em aliança. O "outro" de fora, ou o "outro" de dentro. É um tipo de coesão circunstancial e oportunista que morre com o conflito, engendrando a prazo outros conflitos, em ciclos de calma e crise numa ilha com paradigmas medievais.
A gesta "maubere" produziu, finalmente, uma inversão cronológica. A RDTL é uma cristalização política de uma sociedade que teve alforria de Estado antes de construir uma identidade que o sustentasse.

A filiação de cada timorense continua a ser à respectiva "uma lulik" (casa sagrada) e às linhagens que definem outros territórios e outras leis que não passam por ministros, juízes nem polícias, mas por monarcas, oligarcas e chefes de guerra. É isto que os líderes tentam ser - ou, de contrário, não são.

retirado de Pedro Rosa Mendes, "Timor-Leste A ilha insustentável", publicado em 25.11.2008 no jornal PÚBLICO

Ai Timor (I)


Timor não é um Estado falhado. É pior. Falhou o projecto nacional idealizado há uma década

Em nove anos de liberdade, Timor-Leste não conseguiu assegurar água, luz e esgotos para a sua pequena capital. Baucau, a segunda "cidade", é uma versão apenas ajardinada da favela que é Díli, graças à gestão autárquica (oficiosa) do bispado.
O resto, nos "distritos", é um país de cordilheiras que vive o neolítico como quotidiano, longe do mínimo humano aceitável. Chega-se lá pelas estradas e picadas deixadas pelos "indonésios". Há estradas principais onde não entrou uma picareta desde 1999.

O bem público e as necessidades do povo são ignorados há nove anos com um desprezo obsceno. O melhor exemplo é a companhia de electricidade: durante cinco anos, a central de Díli não teve manutenção de nenhum dos 14 geradores - todos oferecidos -, até que a última máquina de grande potência resfolegou.

O Hospital Nacional Guido Valadares, onde se inaugura esta semana instalações rutilantes, não teve até hoje um ecógrafo decente nem ventiladores nos Cuidados Intensivos. Não há um TAC no país (embora custe o mesmo que dois dos novos carros dos deputados); a menina timorense com que Portugal se comove teve o tumor diagnosticado pelo acaso de um navio-hospital americano que lançou âncora em Díli. A taxa de mortalidade infantil é apenas superada a nível mundial pelo Afeganistão. A mortalidade pós-parto é assustadora. Entretanto, cada mulher timorense em idade fértil tem em média 7,6 filhos.

Circulam entre diplomatas e humanitários os "transparentes" de um relatório do Banco Mundial que conclui que "a pobreza aumentou significativamente" entre 2001 e 2007 (um balanço arrasador do consulado Fretilin, porque o estudo usa indicadores até 2006). Cerca de metade dos timorenses vive com menos de 60 cêntimos de euro por dia e, desses, metade são crianças. Timor é um país rico atolado na indigência, onde os líderes se insultam por causa de orçamentos que ninguém tem sequer unhas para gastar.

retirado de Pedro Rosa Mendes, "Timor-Leste A ilha insustentável", publicado em 25.11.2008 no jornal PÚBLICO

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Como se salva a indústria automóvel



Tenho para mim que a indústria automóvel merece ser "salva". Assim como também acho que deveria ser a mártir de um novo paradigma que se nos depara. Mas isto deve ser feito à custa do mercado, ou será que já se tinham esquecido que Ele existia. Ou seja, deve ser feito sem onerar o erário público através do dinheiro dos contribuintes.

1) Que tal fazer dos automóveis o mesmo que os fabricantes de hardware fizeram com as impressoras.

2) Podem fazê-lo de duas maneiras, 1) a indústria automóvel adquire a indústria petrolífera (apesar de parecer difícil não é nada impossível de concretizar, ou 2) a indústria petrolífera compra a indústria automóvel (a liquidez parece não faltar, aos preços que o petróleo tem andado).

3) Assim os preços dos carros baixavam drasticamente; os preços dos combustíveis subiam substancialmente (cerca de 5 euros o litro pelo menos), mas a indústria ficava sustentável financeiramente por mais uns anos, pois o preço dos carros iria reduzindo até atingir 1/10 do preço actual. Quem estava contente com os motores de combustão permaneceria fiel ao conceito.

4) Como se tornaria muito caro o preço por Km no carro com motor combustão, os carros eléctricos tornar-se-iam mais atractivos para a maioria da população.

5) A malta do petróleo passaria a viver de um nicho, que apesar de encolhido face ao cenário actual, era certamente rentável. E não tentava a todo o custo descredibilizar e dificultar o surgimento das energias limpas e alternativas.

Resumindo, certamente passaríamos a viver num mundo mais equilibrado e melhor. Principalmente sem ser feito às custas do erário público. Era feito com o princípio utilizador-pagador que tantos gostam.Já agora tudo isto poderia ser feito sob a forma de um fundo de investimento, onde se tentaria captar capital privado e/ou público, onde se sabia qual o período da aplicação, e qual o rendimento esperado. Uma coisa do género do fundo imobiliário para quem não estava a poder pagar a prestação das casas ao Banco. Só que desta vez, o sector era o automóvel, e a regulamentação teria de ser o mais harmonizada possível, com forte incidência nos mercados onde a indústria automóvel e petrolífera fosse mais predominante, não obstante de qualquer um poder subscrever.


Espero que gostem!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Única equipa invicta da Europa


o Benfica é a única equipa que ainda não perdeu qualquer jogo no campeonato em toda a Europa.

"Por exemplo"

Para quem tem acompanhado a "turbulência" na educação, recomendo vivamente a leitura deste artigo de António Barreto, que consta da edição de domingo d'O Público e que aqui reproduzo:

"Por exemplo

A ESCOLA ADRIANO ZENÃO, pública, tem cerca de 500 alunos do ensino básico e secundário. Pertence à autarquia. O director da escola, Dr. Fabrício, é gestor, especialista em administração escolar e principal responsável pela escola. Foi nomeado pelo Conselho Escolar, sendo este composto por um terço de professores, um terço de pais de alunos e um terço de membros da comunidadecomunidade (autarcas, empresários e outros). O contrato do director tem a duração de cinco anos e pode ser renovado. A sua nomeação ocorreu após um processo de selecção iniciado um ano antes. A aprovação do seu contrato teve de obter pelo menos dois terços dos votos do Conselho Escolar. O director é assessorado pelo Conselho de Gestão, formado por ele, um técnico e dois professores. Estes três membros do conselho de gestão foram nomeados, sob proposta sua, pelo Conselho Escolar. O Conselho Pedagógico, formado por cinco professores, ocupa-se das matérias exclusivamente desse foro. Há vários planos, muito flexíveis, de organização dos docentes por turma, ano ou disciplina, de modo a permitir a boa informação e a coordenação de certos assuntos. O Conselho Disciplinar é formado pelo director, um professor e um membro da Associação de Pais. O Regulamento disciplinar é elaborado pelo director da escola e aprovado pelo Conselho Escolar. Este último, presidido pelo Dr. Julião Bruno, representante da Associação de Pais, nomeia o director e aprova os orçamentos e relatórios anuais, o plano estratégico de desenvolvimento e os regulamentos, mas não interfere no dia-a-dia da escola, nem nos processos de avaliação ou de recrutamento. Este foi o modelo próprio, construído pela escola. É diferente do de outras e parecido com o de umas tantas.

O Ministério da Educação não tem qualquer intervenção directa na escola. Mas os seus inspectores visitam-na duas vezes por ano e elaboram relatórios que entregam ao Ministério e à autarquia. Além disso, o Ministério estabelece o currículo nacional que ocupa cerca de 75 por cento das matérias disciplinares. Os restantes 25 por cento são decididos pelo conselho escolar, sob proposta do conselho pedagógico. Para as disciplinas do currículo nacional, a escola organiza os exames de acordo com as regras gerais em vigor para todo o país. Mas a avaliação permanente dos alunos, com ou sem exames, depende exclusivamente da escola que aplica os métodos que julga mais convenientes. O Ministério da Educação tem ainda a responsabilidade de estabelecer anualmente os “rankings” das escolas. Por outro lado, pode intervir, com poderes excepcionais, cada vez que se verifique, na escola e na autarquia, uma crise irremediável de que os alunos são as primeiras vítimas.

O financiamento público é garantido pelo Ministério, através da autarquia, no quadro de um plano trienal. A escola recebe um orçamento anual, que tem de gerir livremente, não podendo jamais ultrapassar as verbas atribuídas, pois o Ministério está proibido de acrescentar o que quer que seja. A autarquia tem a seu cargo as despesas extraordinárias e imprevistas. A comunidade, sobretudo as empresas, contribui igualmente. Os empregadores da região fazem sugestões sobre cursos e especialidades que a escola pode criar e que têm utilidade para as actividades locais. As despesas de carácter social (bolsas de estudo, apoios alimentares e outros subsídios) dependem da autarquia, que recorre a fundos próprios e a dotações do Instituto de Acção Social.

Os professores, várias dezenas, pertencem aos quadros da escola. A quase totalidade exerce lá a sua profissão há mais de três anos. Muitos fazem-no há mais de quinze. Os novos professores são recrutados anualmente pela escola, seja através de concursos específicos, seja, em certos casos, directa e pessoalmente. Os novos contratos, com duração nunca inferior a três anos (a não ser a pedido do professor e em caso de emergência), são aprovados pelo Conselho de Gestão, sob proposta do director. Após os primeiros contratos cumpridos, os professores podem obter a nomeação definitiva, tendo para isso que prestar provas. A avaliação dos professores é feita regularmente e ao longo de todo o ano pelo Conselho Pedagógico, pelo Conselho de Gestão e pelo Director. Do processo de cada professor podem constar elementos com origem diversa, incluindo apreciações do Conselho Escolar e dos Inspectores do Ministério, assim como os resultados das provas prestadas e o registo de assiduidade. Esta avaliação, permanente, exclui as “grelhas”, os “projectos individuais” e outros formulários abstrusos. Cada professor redige um relatório anual das suas actividades e dos seus resultados, a que acrescenta uns parágrafos com sugestões de melhoramento e opiniões sobre o funcionamento da escola. A decisão última relativa à avaliação depende do Director da Escola.

Há várias modalidades de participação dos pais, seja através dos órgãos representativos, com funções e poderes reais, seja por intermédio das reuniões com os professores, regulares mas relativamente informais, durante as quais se tratam dos múltiplos problemas da vida quotidiana da escola e dos alunos. Os professores dedicam umas horas por mês a receber individualmente os pais. Os representantes dos pais participam necessariamente na organização de vários aspectos da vida da escola relativos à saúde, ao desporto, à alimentação, à cultura e a outras actividades culturais. A escola fica aberta todos os dias até às 19.00, por vezes 20.00 horas, mantendo em funcionamento, até essa altura, a biblioteca, as oficinas tecnológicas, as salas de estudo, as instalações desportivas e as salas destinadas à música e ao teatro. Por vezes, para certas actividades extracurriculares, a escola fica aberta até às 22.00 horas.

Parece difícil, não parece? Mas não é."

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Está tudo dito. Fica para a posteridade

... e não digam que foi fora do contexto ou com sentido irónico, porque não foi.

Minhas senhoras e meus senhores, apresento-vos Manuela Ferreira Leite, a grande reformista e candidata do maior partido da oposição a Primeiro-Ministro de Portugal:

"Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia..."

"Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se"

"E até não sei se a certa altura não seria bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia".

Para quem não acredita, basta ver e rever aqui.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A "economia real" precisa de amigos (II)

... e parece que já os tem.

O Governo americano prepara-se para apoiar a gigante General Motors, bem como a Ford e a Chrysler. Depois de Wall Street, chegou a vez de Detroit receber o seu "bailout".

Na velha Europa, "Merkel admite conceder fiança para salvar a Opel". Merkel diz que "a Opel é um caso especial".