sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Autopsia da mentira dos liberais portugueses.

A direita portuguesa nada tem de liberal, a sua fraca plasticidade à mudança se ela vier de baixo, e elevadíssima permeabilidade quando ela chega pela mão dos poderosos (é necessário recordar a MENTIRA DAS LAGES), retrata-se a si mesma. Mas se a direita liberal existe em Portugal, ela no seu íntimo, está decerto satisfeita com o PS de Sócrates e com a eleição de Obama. O certo é que esta direita não tem expressão pública (excepto em Pacheco Pereira), e assiste silenciosamente a sua tendência ideológica (liberal) ser usurpada pelo conservadorismo que está nos seus antípodas.
A direita portuguesa ainda é religiosa, medrosa, e dogmática.
Enraizada transgeracionalmente na fé em Jesus Cristo, que apesar de palestino, era louro e tinha olhos azuis. Na crença que devemos estar gratos aos mercenários ingleses que nos sugaram durante séculos, por nos terem ajudado a expulsar da península os “infiéis”, como se esta parte da península alguma vez nos tivesse pertencido, a nós que somos “portucalenses geneticamente imaculados descendentes em linha directa de Adão e Eva, que por sua vez, tal como Deus e o Espírito Santo, também eram loiros e de olhos azuis como todos os portugueses (basta irem ao Martim Moniz, o local que celebra o mártir da conquista da cidade de Lisboa para perceber qual é o padrão da portugalidade).
Nós portugueses que algures nas nossas famílias conseguimos encontrar sempre a presença de valores fortemente conservadores, ouvimos dizer que de Espanha nem bom vento nem bom casamento, que as francesas são aquilo que a gente sabe, que da América durante muitos anos nem a Coca-Cola vinha, que os ingleses não tomam banho, que os pretos são burros, que os árabes são sujos.
Reparem na angústia que não será a eleição de Barack Obama, para o português que cresceu a ouvir dizer e a acreditar que “os pretos sem nós não se governam” e agora ser quase que governado por um “preto”! (sim os pretos: os únicos humanos para quem se aplica a teoria do evolucionismo)
E os católicos, praticantes ou não praticantes, que pouco mais leram do que o catecismo e as cabulas para passar no exame do código da estrada, que agora vêm um filho de um muçulmano como comandante em chefe das forças do bem, contra uns infiéis que nem fazem a barba?
Oh Portugal dos FFF`s, que tão modestamente vivias na lei e na ordem a explorar “os teus africanos” e que ainda suspiras pela mão de inspirados situacionistas que escrevem corajosamente sob heterónimo.
John McCain deu o mote, as palavras agora são de esperança, de confiança de união. O que faz a direita lusitana com elas? Ignora-as e continua céptica, desconfiada e definitivamente não quer cá misturas com esses tipos que nos constroem as casas e nos limpam as cozinhas. E nem se apercebem do ridículo que é esse cepticismo que mascara o preconceito. Todo o mundo celebrou a vitória de Obama, até o Irão felicitou um presidente eleito EUA pela 1ª vez desde 1979!
Obama poderia nem ser assim tão bom, mas seria sempre motivo para uma direita liberal e humanista rejubilar.
E não lancem agora para a fogueira o palhaço que defenderam durante 8 anos.
Portugal teria também que mandar os seus bem castos para o mesmo fogo. E onde estão agora os elogios a Mário Soares ou a Freitas do Amaral por terem dito e defendido, desde o inicio da “guerra contra o mal”, exactamente aquilo que Obama também defendeu?
A direita portuguesa é acima de tudo saloia. Já o havia sido no tempo do “botas”, quando isolou Portugal do resto Mundo, menosprezando, como o faz agora com Obama, a administração e a pessoa de JFK.
Saloia porque se menospreza a sua própria intelectualidade e segue cegamente a direita que vem de fora. É mais fácil ouvir elogios do PSD (o mesmo que votou o preambulo “socialista” da constituição portuguesa) a um PP espanhol (semi-franquista) do que o partido democrata americano simplesmente porque no esperto politico local ainda existe um grande partido à sua direita. E o que faz o PSD no grupo parlamentar do Partido Popular Europeu? Mas isto faz algum sentido histórico e ideológico?
Faz! A direita em Portugal não sabe nem quer saber porque é de direita, e nem se interessa por saber se sempre foi de direita. A direita portuguesa é maniqueísta e autista, o que interessa é o € e o resto o € resolve.
Identidade? Critica? O país? O que é isso?
A nossa direita é uma direita construída de € e de privilégios. Em Portugal não existe uma cultura de direita. Ou será que existe?
Reformulo, em Portugal não existe uma cultura de direita mas existem modas douradoras de direita. Em certa medida o cavaquismo, poderá ser visto em si mesmo uma moda que já dura à mais de duas décadas, visto que inspirou muitos contabilistas a aventurarem-se pela opinião. O pequeno tecnocrata recém-licenciado pensa: se um iletrado como o Prof. pode chegar a Presidente, também eu que nunca me preocupei com nada nem com ninguém para alem do que tem na carteira, também um dia posso aparecer na televisão a falar para os vizinhos à hora do jantar.
A outra moda é de ainda pior gosto do que a marquise da Maria. É a moda dos tios e das tias, já não há Don nem Dona para chamar. E embora esse tempo já tenha passado, ele é recriado todos os dias da Lapa a Cascais, ou dos montes no Alentejo à Foz no Porto.
Uns parados no tempo há 20 anos, os outros no dia 1 de Fevereiro de 1908.
A direita portuguesa não é de todo liberal, é sim de um conservadorismo impenitente, e esse é até um dos principais problemas da nossa esquerda, que também tem a sua boa quota de museu sepulcral no Partido Comunista Português.
Qual batalha imortal, um apenas desaparecerá no dia em que o seu antagonista deixar de existir.
Talvez um dia, a nossa direita resolva emancipar-se, deixe de ir à missa para se sentir mais humanista, e resolva aplicar esse mesmo humanismo nas suas praticas sociais e económicas.
Talvez um dia… a direita portuguesa continuando direita, deixe de ser retrógrada.

1 comentário:

Anónimo disse...

No tienes ni idea de lo que pasa en España