quarta-feira, 16 de julho de 2008
Bomba Napalm
A revisão das previsões dadas a conhecer pelo governador do Banco de Portugal, vieram confirmar uma realidade que nós todos já suspeitávamos. Portugal não está imune à crise internacional. Quem pensasse o contrário, era porque certamente não vivia neste planeta…
De facto é uma situação de frustração, tanto para os governantes que tiveram, a bem da saúde das contas públicas, de implementar medidas impopulares exigindo esforços às famílias e às empresas. Assim como para os governados, que, uns mais que outros, fizeram os esforços que lhes foram pedidos. Ou seja, as contas estavam a equilibrar, tínhamos conseguido sair da zona dos “cábulas” em Bruxelas, baixando o défice para valores abaixo dos 3%. E até estávamos a ter um crescimento do nosso PIB, comparando com os anos anteriores, mostrando que se conseguiam fazer sacrifícios sem penalizar o crescimento económico.
Eis senão quando, começa a surgir da banda de lá do atlântico, mais propriamente da maior economia do mundo (pelo menos até à data, e até prova em contrário), surge uma coisa que ficou conhecida por subprime. Era o início de uma à muito anunciada crise do ocidente e do seu paradigma. Juntamente com a crise financeira, que graças à livre circulação do capital, um fenómeno que tem a origem num ponto, espalha-se mais facilmente por todos os pontos interligados em rede (bancos na Europa), afectando assim todo o sistema financeiro do mundo ocidental. Aos quais lhe valeu o socorro dos bancos centrais que injectaram liquidez no sistema. Mas como alguém não se cansa de referir, “não há almoços grátis”, e até os bancos centrais emprestam dinheiro a juros. Ou seja, não só mas também, pois também existem os mecanismos de controlo da inflação, o preço do dinheiro para os bancos aumentou. Para ajudar à festa, perdoem-me a expressão, surge a “suposta” crise energética (que para mim, não é mais do que o mundo inteiro a pagar os custos da invasão do Iraque). Crise essa, que pessoalmente creio que poderá ter aspectos positivos. O facto de, devido ao aumento dos combustíveis, possa facilitar o aparecimento no mercado, de automóveis e aparelhos mais eficientes e limpos ambientalmente, que proporcionem o mesmo uso que os actuais. Até lá o que assistimos é a escalada injustificada de preços dos combustíveis de forma aparentemente injustificada. Será que, pelo facto de sermos todos tão dependentes do petróleo e derivados, que já estamos a financiar o investimento em alternativas que o substituam? Ou será que estamos todos a ser “vítimas” do lucro fácil e ganância da venda das opções e futuros, com base em que o petróleo há-de chegar aos 200$/barril? Outra coisa que pode assustar: já se fala que os especuladores depois do petróleo, que estima-se já não terá muito mais para especular, irão voltar-se para os alimentos… será que também vamos ter de criar uma cadeia alimentar alternativa? A juntar a este ramalhete (e prometo que termino por aqui) temos que contrariamente ao que a estratégia de Lisboa previa, a Europa está longe de ser a zona mais competitiva do globo. Estando esse papel mais com os BRIC, coadjuvados pelos “senhores do ouro negro” que não sabem o que hão-de fazer a tanto dinheiro e poder. Mas dou uma dica: salvo raras excepções, asneiras…
Eu prometi que era a última desgraça mas enganei-vos (isso também é uma coisa que tem de acabar de uma vez por todas…). Esqueci-me da inflação. Era um mal que não nos afectava. Até estávamos a ser vítimas de remédios administrados pelo Sr. Trichet, às economias alemãs e francesas, essas sim com níveis de inflação mais altos. Mas até esse mal já nos começou a atingir. E já foi reflectido nos dados do INE relativos ao mês de Junho. Pior será se caminharmos para uma situação de estagflação. Caracteriza-se por um período arrefecimento económico (não crescimento, ou mesmo recessão) e por um aumento do preço dos bens. Viveu-se período semelhante na década de 70. A palavra tem origem durante a crise económica que assolou o mundo durante a década de 1970, de um lado pelo superaquecimento das economias dos “países desenvolvidos”, a partir da excessiva expansão de procura agregada, o que levou a pressões inflacionistas; do outro lado, pela redução da oferta agregada, a partir das restrições impostas pelos países produtores de petróleo, perdas de safras e redução das actividades em sectores que dependem do petróleo como matéria-prima, ou simplesmente como complemento, levando ao desemprego.
Como eu referia no título do artigo todos estes efeitos conjugados, numa altura em que estávamos a percorrer um caminho já por si difícil, e numa economia pequena, e principalmente frágil como a nossa, tem o efeito de uma bomba napalm…
Uma coisa tenho a certeza: temos um árduo trabalho pela frente!
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