quinta-feira, 6 de março de 2008

Nasce um novo partido (2)

Ontem à noite, na SIC-Notícias, Ana Lourenço desafia Rui Marques, porta-voz do Movimento Esperança Portugal (MEP) a justificar as motivações por detrás deste novo partido.
Para além da retórica useira dos políticos clássicos e na dificuldade em dar expressão aos apelos de Ana Lourenço para que fossem dados exemplos de medidas e acções concretas, Rui Marques assumia a forte convicção em dar às Portuguesas e aos Portugueses (até aqui o jargão utilizado é o mesmo) uma "política de esperança".
É curioso ver como sopram os ventos da América e da antecâmara das eleições presidenciais nos EUA e como expressões como "mudança" ou "esperança" tomam de assalto o ideário político europeu.
Vejamos dois exemplos bem actuais: tanto o MEP de Rui Marques ("A Política da Esperança") como o novo Partido Democrático de Walter Veltroni ("Adesso una Italia nuova. Si può fare"), actual presidente da câmara municipal de Roma e principal candidato da esquerda contra Berlusconi nas eleições antecipadas italianas, vão beber inspiração no discurso de Barack Obama ("Change we can believe in") ("A audácia da esperança").

Post-scriptum

Para melhor se perceber a "Obamania", veja-se este excelente artigo de Pedro Lomba no Diário de Notícias de hoje [06-03-2008]:

«UM OBAMA PORTUGUÊS?

O João Miguel Tavares pedia esta terça-feira aqui no DN um Obama à portuguesa. O João Miguel Tavares está, como muitos, cansado das torpezas da política caseira, não acredita em Sócrates ou em Menezes, e não vê melhores alternativas. Por isso reconhece no talento retórico e no extraordinário poder mobilizador de Obama o estilo certo para um país em crise de confiança como o nosso. Suspeito que a opinião dele exprime uma tendência. Parece que a taxa de obamania em Portugal é alta. Noutros países europeus a situação é igual. Obama, um político que sem dúvida interessa seguir, pode bem acabar por criar uma marca global e exportável, exactamente como fizeram Reagan ou Blair. É cedo para dizer alguma coisa sobre isso porque o candidato democrata não só não ganhou, como não provou que sabe governar. E, aliás, contra o que ele mesmo desejaria, tem subido tão alto as expectativas dos americanos que se vier a ser eleito e não se mostrar à altura, a queda será dolorosa. Mas há uma diferença: a obamania portuguesa não se limita só a idolatrar o verdadeiro Obama. Deseja também a pronta invenção do Obama português. Até os taxistas com quem já falei, que costumavam suplicar por um "novo" Salazar, imploram agora pelo nosso Obama. Lamento decepcionar todos aqueles que buscam o nosso Obama. Mas não há nem pode haver o equivalente português de Obama, vindo talvez de Rio Tinto e, quem sabe, filho de uma moldava budista. Para começar, o percurso e a vida de Obama (com as suas origens afro-americanas, a sua errancia por todo o lado, a sua religiosidade primeiro muçulmana e depois cristã) são um produto genuíno da sociedade americana. O próprio Obama oferece-se sempre nos seus discursos como criação dessa mesma sociedade. Depois, Obama subiu a pulso na vida política e foi reconhecido pelo seu mérito (numa sociedade que sabe reconhecer o mérito) sem nunca perder a espontaneidade, a mesma espontaneidade que lhe dá o seu poder oratório. Quem em Portugal tenta subir a pulso encontra um país avesso ao mérito, esbarra com fidelidades organizadas e transforma-se rapidamente numa criatura contida e calculista. E, terceiro, um Obama à portuguesa, moderado e conciliador, decente e esperançoso, capaz de ultrapassar a esquerda e direita, seria por certo liquidado pelos paroquialismos e facciosismos do costume.Levei a conversa a sério e não era preciso tanto. A obamania nacional faz parte da nossa histórica dependência de políticos salvadores. Mas admito também que há um lado mais sério no problema. Portugal é um país de cépticos que esperam um dia ser convertidos. E há toda uma geração de políticos que ou está velha e caduca, ou envelheceu depressa e pede substituição. Pedro Lomba»

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