quarta-feira, 30 de setembro de 2009
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Um jornalista vai a Belém ouvir o Presidente da República, mas não pode fazer perguntas e fica com um 'montão' delas entaladas na garganta.
Um jornalista em Belém ouve o Presidente dizer que houve "manipulação" com o seu nome e a sua figura durante a campanha eleitoral e não pode perguntar por que não a denunciou.
Um jornalista em Belém fica, ali, sentado, a ouvir o Presidente a dizer que considera "graves as declarações de destacadas personalidades do Governo" sobre a eventual participação de membros da sua Casa Civil na elaboração do programa do PSD e que elas são "mentira", e não pode inquirir por que ele não o disse.
Um jornalista em Belém ouve o Presidente afirmar que tem dúvidas sobre os termos exactos das declarações atribuídas a um membro da sua Casa Civil e não pode perguntar a razão pela qual se calou.
Um jornalista em Belém escuta o Presidente dizer que desconhecia totalmente a existência de um e-mail publicado num jornal e que duvida da veracidade das afirmações nele contidas, e não pode perguntar porque razão então houve esse e-mail.
Um jornalista em Belém vê o Presidente, crispado, dizer que não vê onde está o mal de um membro do seu staff ter sentimentos de desconfiança em relação a outros, e não pode perguntar: mesmo se esse outro é um "elemento do gabinete do primeiro-ministro", como está escrito no e-mail?
Um jornalista em Belém ouve o Presidente reafirmar que há dúvidas de que alguém pudesse ter falado em seu nome não estando para tal autorizado e que é por isso que faz "alterações" na sua Casa Civil e não perguntar se o seu colaborador foi ou não demitido ou se permanece ao seu serviço.
Um jornalista em Belém entende que o Presidente se interroga sobre a confidencialidade dos seus computadores e não pode perguntar: mas foi só agora que tem essa suspeita ou há mais tempo?
Um jornalista em Belém ouve o Presidente dizer que se ultrapassaram "os limites do tolerável e da decência" e, finalmente, pergunta-se: e agora, como é que Presidente e Governo vão coabitar, logo agora, que o país mais precisa?
Luisa Meireles (www.expresso.pt)
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