sexta-feira, 6 de março de 2009

Patton vs Rommel


Porque ganham votos, e até eleições, Francisco Louçã, Manuel Alegre, Isaltino Morais ou Valentim Loureiro? Estarão a pensar: o que fazem estes gatos no mesmo saco?!
É indiscutível. Mais à esquerda ou à direita, para o ouvido menos politizado, de quando em vez, estes protagonistas conseguem falar ao coração do eleitor.
Mesmo demagogos ou corruptos, à luz da vela que ilumina “O Homem da Regisconta”, aqueles, ao menos, parecem humanos. Nós ainda não perdemos a tendência de votar em seres da nossa espécie, em detrimento de hologramas bem programados.
O Louça. Nunca senti por ele aquele temor reverencial que ainda guardo de alguns professores da faculdade. Aquele timbre resmungão, parece-me o Sr. Joaquim, reformado da função publica, campeão da bisca lambida, e que passa as tardes a doutrinar os pombos do Jardim da Estrela contra os “Xampalimôs e os Mélos” que compram “esses vendidos do Parlamento”. Uma figura patusca!
O "Isaltino faz obra”, e isso merece sempre elogio num país em que a obra "vai-se fazendo”.
O Valentim. Um “homem do futebol” e eu não resisto a um chuto na bola.
Ouvir o Manuel Alegre é ouvir o meu pai, e… está tudo dito.
Instintivamente, eu votaria em qualquer um destes homens, se à boca da urna, seguisse os meus genes mais Montecchios, e, claro está, desligasse o cérebro. Exactamente os mesmos instintos que me embargam o voto na “Dama Enferrujada”, e que me dificultam na tarefa de apoiar José Sócrates.
Montecchio “ma non troppo”, é obvio que JS e MFL são as únicas individualidades elegíveis para São Bento.
Mas recentemente estive no limiar de uma mudança de paradigma, uma pulsão adolescente assomou ao meu “Eu Político”.
Vale o que vale, mas se o Deputado Afonso Candal tivesse “ouvido” o repto que o adversário de bancada José Eduardo Martins lançou para “resolverem o assunto lá fora”, e se fosse o caso, desse titânico confronto, ser igualmente televisionável, aqui juro pela minha honra, que confiaria o meu voto ao contendor que demonstrasse mais coragem e galhardia, para alem de nobreza nos golpes desferidos elegância no encaixe das respostas.
Assim ficámo-nos pelas palavras, e ai, José Eduardo Martins, marcou um auto-golo decisivo e, o meu voto contínua rosa.
Como experiencia colectiva, se este episódio teve alguma utilidade para nação, terá sido para relembrar que “na política como na vida”, um pouco de humanidade, por muito que a queiram sublimar, continuará a salutarmente existir. Pena que esta apenas se revele em sombrias formas.
Certo é, que “a rua” está farta de olhar para Olimpo de cinismo onde políticos como Manuela Ferreira Leite habitam. Esse Olimpo etílico onde os seus habitantes lembram-se e esquecem-se, a horas certas, das virtualidades e vergonhas do que fizeram enquanto ocuparam, mesmo que há escasso tempo, as cadeiras do poder
Agora imaginem só: e se o Deputado JEM e o Deputado AC tivessem mesmo andado “à pêra”?
Até que ponto não seria salutar para a AR e para a Nação que, mesmo à chapada, se desvanecessem definitivamente, algumas das dúvidas que a Nação partilha, sobre verdadeira natureza e motivações daqueles que a representam?
George Patton, controverso general americano, nas vésperas da primeira batalha de El Alamein contra os Afrika Korps comandados pelo igualmente brilhante Marechal Rommel, enviou uma mensagem a este, desafiando-o para um duelo. Este duelo leal e justo, substituiria a barbárie do sacrifício de dezenas de milhar de vidas humanas. Quem ganha-se, ganhava a batalha, e assim evitar-se-ia sem desonra a (in)evitável chacina. Os seus homens não derrotaram os militares de Rommel em El Alamein , talvez pelas inutilidade das baixas provocadas, várias décadas mais tarde, nas suas memórias, Patton ainda lamentava que Rommel não tivesse aceite o seu repto.
Quanto ao embate Martins versus Candal nunca saberemos qual seria o desfecho físico e moral para ambos. Mas o resultado colateral provável seria uma poupança à República de mais alguns anos desta lenta e agonizante degradação da classe politica.
Talvez por falta de um momento simbólico definidor, que nos faça encarar o problema com “ganas” de o resolver.
Ontem os Deputados Martins e Candal podiam ter oferecido os seus corpos a este serviço pela Pátria. Certamente, seriam mais nobres do que o foram naqueles momentos em que não estiveram, ou, em que não ouviram.

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