sábado, 4 de outubro de 2008

Novos paradigmas.




O sistema político está em crise!

Os mercados entraram crise!

Na sociedade subsiste uma crise de valores!

A Igreja experimenta uma crise de vocações!

O Mundo vive uma crise alimentar e energética!

A União Europeia não ultrapassa a crise do projecto europeu.


Steve Ballmer (C.E.O. da Microsoft) não gosta do termo crise, para ele como para todos os C.E.O.`s de Wall Street, “…não existem crises, apenas oportunidades, blá blá blá blá… blá blá.” (os oligarcas do status quo gostam tanto das crises, como os moribundos da excomunhão… “vamos para uma vida melhor” … dizem...)


Ainda se fosse apenas mais uma crise.
Podia ser até uma CRISE, mas tinha de ser apenas UMA!
É que assim, já são crises a mais para um tempo só!


Esqueçam o optimismo cínico de quem nunca comeu uma crise*! Se é tempo de CRISE, que seja esta A CRISE de que necessitamos para agarrarmos a “oportunidade” de percebermos o que a persistencia destas crises significa!


A economia de mercado legitimou-se na razão. Histórica e empiricamente comprovou ser capaz de racionalizar melhor os factores produtivos com vista à máxima eficiência e produção.
Podemos afirmar sem abuso, que a Ciência validou o capitalismo, e que o capitalismo valorizou-se cientificamente.
Nas ultimas duas décadas, a par do chamado “progresso cientifico”, o Mundo produzio mais (riqueza) e melhor (mais eficientemente) , do que em qualquer outro momento da história da humanidade.

A economia capitalista estava contente com a ciência, e a ciência feliz com a economia. O Homem maravilhado com o seu engenho.
O Homem?!
Os homens!...
A maioria dos homens!...
A maioria dos homens com poder!...
Ok, a maioria dos homens com poder de compra.
“Vamos ver quanto é que isto dá!”, parecem ter dito algures pela década de 90 do seculo passado, prego a fundo e ... deu nisto!
Teria Georg W. F. Hegelrazãa razão?
Serão o capitalismo e a democracia burguesa o “fim da história”, o corolário da história da humanidade como defende Fukuyama?

Ou não estará hoje a "quase perfeita" democracia liberal de tipo ocidental profundamente enferma, e não seram estes tempos que vivemos a semiologia da sua morte anunciada?
Num tempo de inquestionável primado da verdade cientifica, recorrermos a raciocínios de tipo religioso (de fé) para continuarmos na ilusão da existência de uma qualquer "mão invisível" é mais do que inocencia ou teimosia, é burrice!
Apliquemos então o método científico à análise dos tempos conturbados que vivemos, apliquemos a dúvida metódica como nos ensinou René Descartes no seu “Discurso do Método”(edit. 1637), publicado à quase 400 anos!
O que nos leva a crer (a ter fé) que os 700 mil milhões de USD do plano Paulson não seriam mais eficazes para a prosperidade da América e do Mundo, se fossem aplicados na irradicação da fome no planeta durante os próximos 10 anos?! Os mercados que se abririam. As guerras que evitariam. Os trabalhadores que produziriam...
O status quo adia assim e mais uma vez a efectiva resolução ou será a revolução?
Os paradigmas da sociedade ocidental contemporânea estão quase todos, senão mesmo na sua totalidade em crise. Porquê? Estes paradigmas que foram quase que unanimemente reconhecidos como estabelecendo as melhores formas de prever e encontrar soluções para os problemas, apresentam hoje desajustes gravíssimos com a realidade. Destas anomalias resultam os momentos de crise que a sociedade (politica, económica, individual) não consegue superar. Como teorizava Thomas Kuhn no seu “Estrutura das Revoluções Cientificas”, quando as anomalias subsistem e as crises persistem o momento seguinte é a revolução. A revolução vai trazer-nos, novos paradigmas com novas formas de calcular e encontrar as soluções para os novos problemas emergentes.
Pode não agradar ao K (abreviatura em economês para Capital) actual esta nova e (im)prevista realidade, mas o futuro também terá o seu presente e ele não se fará enquanto o K quiser “que tudo mude para que tudo fique igual”.

A ver vamos se num Mundo global, um plano de salvação nacional (Paulson), pode surtir o efeito extra modal de inverter o panorama de crise económica e essencialmente ética com que vivemos desde dos Yuppie 80th`s.
Alguém tem “fé” que chegue para “crer”(com fé) neste epilogo tão “cientificamente” improvável?

Seria isso sim... paradigmático!


Aqui escrevo e prometo à dita virgem: Vou a pé ao shooping mariano de Fátima se estiver a ser atraiçoado pela minha falta de "fé" no Mr. Paulson&Friends.


O bailout da Reserva Federal Americana poderá ser o elixir da perene juventude para a economia ocidental, mas os paradigmas do futuro são já o presente e... são globais.

Ámen,

*refeição económica (€2,5) típica de São Martinho do Porto, composta por, uma salsicha, um ovo, e uma batata, tudo frito ao mesmo tempo com o mesmo óleo e na mesma frigideira.

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