quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Outra vez os hospitais

Alguém me pode dizer se faz sentido a Caixa Geral de Depósitos, banco integralmente detido pelo Estado, ser proprietária do Hospital dos Lusíadas, aberto em Maio deste ano?

Faz sentido um banco público canalizar recursos para um hospital privado, concorrente dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (por exemplo, o Hospital de Santa Maria, hoje já gerido de forma empresarial) mas sobretudo concorrente de outros hospitais do sector privado (por exemplo, o Hospital da Luz)?

A CGD (o Estado) constrói e explora hospitais porque tem de concorrer com outros estabelecimentos hospitalares? É essa a sua missão?

Diga-se que a sociedade HPP - Hospitais Privados de Portugal, SGPS, S. A., detida pela CGD, tem mais 6 hospitais privados em todo o País e também já venceu o concurso relativo à Parceria Público-Privada relativa ao novo Hospital de Cascais.

Fica aqui a reflexão... talvez não esteja a ver o lado certo desta questão. Mas também está anunciado - à semelhança do Hospital da Luz de que já aqui falei - um acordo com a ADSE para a prestação de serviços aos funcionários públicos.

4 comentários:

Nuno Félix disse...

O problema não está no facto da CGD promover hóspitais privados em concorrencia com outros grandes grupos financeiros (Ex.: BES) que há muito descobriram o filão dos negócios da saúde. O problema está na natureza do capital da CGD (Estado). Faz algum sentido o estado continuar a deter e a gerir um banco 100% comercial, lider de mercado, como é a Caixa?

André Miranda disse...

Caro amigo,

Esse era o tal lado de que eu falava... é que nestas condições qual é a razão para manter a CGD nas mãos do Estado?
Só vejo duas: a) dividendos e b) impostos.
Em dividendos são sempre aproximadamente € 200 milhões por anos, quanto a impostos vão cerca de € 225 milhões.
São bons argumentos, não são?
Há ainda outra perspectiva: por um lado, a CGD é o braço financeiro do Estado na detenção de participações sociais em sectores relevantes (discutível se o deveria fazer); por outro, a CGD garante financeiramente muitos investimentos públicos.

Nuno Félix disse...

Esses são os argumentos contabilísticos do accionista Estado. E os argumentos políticos do interesse público?

André Miranda disse...

Quais argumentos políticos? Que interesse público?
A actividade das empresas públicas deve orientar-se para a obtenção de níveis adequados
de satisfação das necessidades da colectividade. Será que a CGD está orientada nesse sentido? Talvez esteja parcialmente... mas alguns destes exemplos são, a meu ver, maus exemplos.