domingo, 6 de julho de 2008

1+ 1 = 2


Esta é uma replica ao texto publicado neste espaço sobre a média das notas nos exames de Matemática deste ano.
Que bom relê-lo Mrs. Count! A este blog plural já faltava o bafio dos “bons velhos tempos”. Ok, sei que o primeira reacção do Mrs. Count (Wanna be Sir Count?) a este texto será: "ressabiado!" A segunda reacção: "comuna!" A terceira: "ressabiado!" A quarta: "comuna!" E enfim… por ai até ao final da sua “página de Excel”.
Perante a típica amnésia selectiva de que enferma a generalidade da direita portuguesa, não resta outra alternativa que não a de afrontar os conservadores mais sensíveis, nos quais incluo a Dra. Ferreira Leite, o Dr. Paulo Portas e o Dr. Count (melhores que o trio Odemira).
Durante demasiados anos, o sistema educativo português, mais do que um sistema formativo, foi um sistema selectivo. Tinha como principal objectivo excluir do sistema a média, e apurar para dirigir essa mesma média (maioritária), uma elite de privilegiados que geracionalmente tendia (e ainda tente) para a autoperpetuação na vanguarda sistema social português.
Para além de ser muito melhor ser “doutor” num país de analfabetos, do que licenciado num país de “doutores”, os nossos “doutores” ainda podiam “ganhar mais algum” no negócio da “qualificação” dos “analfabetos” que o sistema público, dirigido pelos nossas "elites" excluía.
Por ser a ferramenta operacional das “contas”, logo do dinheiro, a matemática sempre se quis como um saber de “quem conta”, por oposição aqueles que eram e devem ser “contados” (à entrada das fabricas, dos campos e das urnas).
50 anos de ditadura do “melhor ministro das finanças português do sec. XX”(perdoem-me os direitistas se "O" evoco em vão), e 21 anos de Ministério da Educação do PSD, legaram-nos uma aprendizagem da Matemática diabolizada pelo anacronismo existente entre as competências pedidas no processo de aprendizagem da disciplina, e as exigidas nos momentos de avaliação da mesma.
Tinha alguma lógica que alunos com aproveitamento à disciplina durante 12 anos de formação, fossem sistematicamente corridos a negativa nos exames de acesso ao ensino superior? Onde estava aqui a incompetência?
A quem servia esta vergonha, periodicamente feita publica?
Não defendo que o ensino da matemática em Portugal seja bom, ou que o tenha sido alguma vez. O que não aceito, é que num exame final de os alunos tenham que ter necessariamente piores notas do que os resultados que tiveram ao longo do processo de aprendizagem.
O que é importante num exame final que se quer avaliador da aprendizagem da generalidade dos conteúdos leccionados ao longo de 12 anos?
Umas rasteiras matreiras? Uns problemas muito criativos para complexizar ainda mais o raciocínio dos avaliados, já de si pressionados pela limitação temporal e pela pressão próprias da natureza de um exame final?
O que interessa avaliar num exame final, é se o aluno tem boas competências na generalidade da matéria, que perceba interligação dos conteúdos. Não interessava para nada, introduzir um factor “sorte” nos exames, como aqueles com que todos nos deparávamos “antes da reforma” , Quem esqueceu aquelas magnificas provas que nos pediam um domínio total de uma parte secundaria da matéria (negligenciando conhecimentos bem mais estruturais) de forma a criar à priori um factor de eliminação dos alunos mais incautos, ou que tiveram um acompanhamento mais irregular das matérias. Mesmo que com “uma boa média” de aprendizagem e razoável domínio dos conhecimentos propostos no programa, todos sabemos como eram comuns estas “surpresas”
Como era apanágio dos professores de matemática, sempre tive aqueles que entregavam as “negas” com um esgar de satisfação denunciado num oportuno e cinico sorriso. Parecia que avaliavam o seu sucesso como professores pelo insucesso relativo dos seus alunos.
Eram funcionários publicos, nada tinham de professores, e em muito contribuíram para a deterioração do interesse público pela matemática em Portugal.
Estes ditos professores não passavam de uns “saloios” que se consideravam a si mesmos os bastiões defensores do “sistema de educativo português” da escola da tabuada ou da reguada.
Felizmente, o “caos” e a “bandalheira” a que a revolução de 74 conduziu o pais, por desistência e fuga de algumas das anteriores “elites sócias e económicas”, também criou condições sociais e económicas propicias à ascensão de muitos “analfabetos” a novos padrões aspiracionais para a formação dos seus filhos e foi assim que muitos deles evitaram alguns deste “professores” frequentando colégios e universidades particulares e privadas, onde “convém” que os encarregados de educação estejam satisfeitos com o aproveitamentos escolar dos filhos.
Foi através deste esforço particular que se formaram novas “elites” de origens trabalhadoras e com menor formação de base. O estado muito pouco ou nada fez para isso e por eles. O ensino da matemática, e em particular, as práticas de avaliação de conhecimentos associadas à disciplina em muito serviram os propósitos daqueles que queriam que os “doutores” continuassem a ser os filhos de “doutores” e que os filhos dos "trabalhadores" de "trabalhadores" não passassem. Lamentável é verificarmos hoje, que toda uma nova geração de “doutores privados” não reconhece as reais razões do seu sucesso e continua a prestar homenagem a um sistema conservador e retrógrado que nunca desejou nem possibilitou a sua recem conquistada e plenamente merecida ascensão à elite social e cultural do país pós-revolucionário.
O poder político em Portugal até 1995, nunca considerou a escola como o mecanismo de inclusão por excelência que é, mas sim como o útil mecanismo de selecção e exclusão que foi. Após 95, perdeu-se no caminho da mudança do sistema educativo e anacronicamente deformou-se no essencial, devido à ausência de uma verdadeira cultura de avaliação.
Parabéns ao 1º governo que num Portugal democrático, percebeu que para avaliar bem os alunos é necessário avaliar igualmente bem e primariamente quem os ensina (ainda que o tenha feito com seculos e atraso relactivamente a outros paises europeus). Parabéns pela visão e coragem.
Este governo percebeu igualmente que formação de base serve exactamente para isso. Que o ensino superior quer alunos com saberes completos, e que o ensino técnico não é para os “burros” que não entram na faculdade. Parabéns pela argucia e razoabilidade.
Por fim parabéns ao júri que fez este exame de matemática. Que este seja o 1º de muitos.

Àmen.

2 comentários:

Pedro Alb disse...

Sr Cura,

Parece-me que este Domingo não pode ir à praia e por isso aqui deixou a sua homília...

Enquanto orgulhoso (não confundir com "Orgulhosamente Sós") resultado do "esforço particular que se formaram novas “elites” de origens trabalhadoras e com menor formação de base" tenho que lhe dizer que concordo em muito com o que escreve e teremos por certo oportunidade de discutir sobre o resto.

"O que interessa avaliar num exame final, é se o aluno tem boas competências na generalidade da matéria, que perceba interligação dos conteúdos."

Soa bem sim senhor, mas levado à práctica significa ter umas ideias sobre as coisas... E isso não chega (por este caminho chegará...) para a faculdade e muito menos para um mercado de trabalho onde cada vez mais concorre com países onde sem idealismos bacocos se practicam verdadeiros sistemas de exigente meritocracia... A título de exemplo, um destes dias descobri que numa licenciatura (pública, não se apoquente, pública...) de gestão não se explica o que é um Índice de Bolsa...

Por entre os inúmeros dogmas que pregou, lamento não ter percebido a sua opinião sobre o aumento de 40% da média de um ano para o outro...

Quanto aos parabéns ao júri...

Like I said, everybody is happy...

Nuno Félix disse...

Dear Count,

Este comentário se comprova uma coisa: a falência total das teorias marxistas sobre a luta de classes, apesar de descendermos da mesma classe social e até do mesmo distrito, aqui nos encontramos tertúliando em lados opostos da barricada (barracada) politica.
Bem vistas as coisas média aumentou, de facto, 40%... acredito… mas ela não estava miseravelmente baixa? Não contrastava flagrantemente com a média das avaliações que eram dadas pelos professores que avaliaram continuamente e crê-se que exaustivamente os seus alunos ao longo do ano lectivo?
Provavelmente não estará agora 40% inflacionada, a meu ver, estava anteriormente e desonestamente deflacionada. Quanto à evolução de um ano para o outro, os erros são assim mesmo, mesmo quando repetidos durante anos a fio, quando corrigidos o resultado salta “naturalmente à vista”.

Abraço e para hoje antes de adormecer sugiro a leitura da homilia proferida pela Dra. Manuela Ferreira Leite sobre o papel social da instituição do casamento e sobre a natureza da homossexualidade.

Ámen.