terça-feira, 27 de maio de 2008

Só para reforçar o quão certos estamos...

Desonestidade
Se a desonestidade compensa, por que tantas pessoas continuam a ser honestas e íntegras? Alguns respondem que o fazem por temer a Lei.

Francesco Alberoni

Por que razão devemos ser honestos, leais, manter a palavra dada, não fazer ameaças e chantagens quando sabemos que muitos, usando meios ilícitos, conseguiram enriquecer, se tornaram poderosos e são admirados e elogiados? Se muitas fortunas nasceram da genialidade de empreendedores, outras são fruto de patifarias. Os americanos chamam Robbert Baron a alguns dos seus famosos magnatas.

Se a desonestidade compensa, por que tantas pessoas continuam a ser honestas, íntegras, correctas? Alguns respondem que o fazem por temer a Lei. Mas alguém acha que as pessoas honestas são honestas por terem medo dos magistrados? Não. As leis são indispensáveis, mas não somos agradáveis com o nosso marido ou a nossa mulher, não cuidamos dos nossos filhos, não fazemos o nosso trabalho diário, não ajudamos os outros por medo da lei. A sociedade assenta em costumes, regras morais, valores, laços afectivos e é apenas quando estes factores deixam de funcionar que a lei deve intervir. E nem sempre com muito êxito, como demonstram a Máfia e a Camorra. O rigor moral começa a formar-se desde criança através do exemplo dos pais, dos professores, dos amigos. É uma bússola interna que vamos refinando enquanto adolescentes e adultos, com as experiências da vida.

É uma construção pessoal, o produto de uma vontade, de uma autodisciplina como todas as outras virtudes, todas as outras capacidades. O bom pianista, o bom futebolista devem começar cedo, mas depois continuar a cultivar as suas próprias capacidades. Quem não tiver construído essa bússola vai achar que é normal enganar, roubar, trair. E vai fazê-lo sempre.

E podemos perguntar-nos como é que os honestos, aqueles que têm a bússola da integridade, podem funcionar num mundo em que há tantos poderosos corruptos e tanta gente sem escrúpulos? Não serão sempre derrotados? Nem sempre. Porque quem optou pela rectidão e renunciou a ludibriar, é levado a desenvolver outras capacidades. É um pouco como o cego que, por não ver, adquire uma extraordinária capacidade auditiva táctil e cenestésica. O honesto desenvolve muito mais a inteligência, a criatividade, a eficiência. Inventa, organiza, constrói, inspira confiança, consegue que lhe dêem crédito. Quando temos de confiar realmente em alguém, ver as coisas bem feitas, somos obrigados a virar-nos para ele. Ninguém, nem sequer o político com menos escrúpulos, pode viver sem isso. Esta é a sua força e, por essa razão, afirma-se e faz com que seja possível viver na nossa sociedade.

http://www.alberoni.it/
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Francesco Alberoni , Sociólogo

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