segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O País político depois de 27 de Setembro

Quem tenha apenas visto as intervenções dos líderes dos cinco maiores partidos terá ficado com a ideia de que todos , com excepção do PSD, ganharam. E isso é possível porque, em certo medida, quatro dos cinco maiores partidos alcançaram resultados animadores, dentro das expectivas que se vinham gerando desde as eleições europeias de Junho passado.

PS: todos os partidos consideram o Partido Socialista o grande derrotado destas eleições por ter perdido a maioria absoluta. No entanto, é preciso não esquecer que o PS conseguiu resistir às condições mais adversas vividas por um partido no poder na história democrática recente. E isso mostra a obstinação de Sócrates e a sua grande habilidade de inverter uma opinião pública largamente influenciada pelos media para diminuir as suas capacidades pessoais.

PSD: objectivamente o grande derrotado das eleições, em particular a sua líder, Manuela Ferreira Leite. Jogou o tudo ou nada na estratégia da asfixia democrática e faltaram-lhe ideias mobilizadoras de um eleitorado cada vez mais exigente. O PSD acabou esmagado pela incapacidade manifesta de MFL para ser uma líder credível. As autárquicas, que o PSD poderá vir a ganhar, apenas servirão para alinhar os candidatos à sua sucessão. Mas da noite eleitoral resulta uma excelente lição para a democracia: como não desbaratar uma distância tão curta para o PS.

CDS: o grande beneficiário da conjuntura política portuguesa (Governo naturalmente fragilizado pelos resultados da crise económica e PSD sem fôlego para ser uma alternativa). Portas recebeu um voto de confiança da direita portuguesa para se tornar o líder da oposição mas o apetite governativo já começou a notar-se.

BE: apesar de passar a contar com 16 Deputado, teve um resultado abaixo das previsões mais pessimistas. Foi penalizado pela demagogia de Louçã e pelas contradições ideológicas que ainda encerra. Tal como o CDS, o BE é cada vez mais um partido implantado em todo o País.

CDU: Baixa do 3.º lugar para o último lugar dos partidos com representação parlamentar o que, a meu ver, trará um efeito psicológico significativo na sua performance parlamentar. O resultado obtido – mesmo com alguns novos eleitores – demontra como Jerónimo de Sousa desperdiçou a melhor oportunidade de alargamento da base eleitoral do PCP.

Pequenos partidos: sinal negativo para o MEP, uma vez que depois de conseguir 52.828 votos nas Europeias com Laurinda Alves, não foi além dos 25.338 votos nas Legislativas, dos quais 8.974 em Lisboa, 3.611 no Porto e 1.497 em Aveiro, os seus distritos com candidatos mais fortes. Talvez não tenham entendido que um partido político em Potugal não pode funcionar como uma ONG. Sinal positivo para o PCTP-MRPP que superou, pela primeira vez, a barreira dos 50.000 votos. O seu slogan deveria ser “Ousar lutar, ousar vencer, ousar sobreviver”.

2 comentários:

Luís Viegas disse...

Boa Análise! Só te estás a esquecer de mais um derrotado - Cavaco Silva. Não foi capaz (pois é mais forte do que o próprio) de manter a equidistância em todo o processo. Possivelmente será o 1º Presidente da República da história democrática recente a não conseguir ser eleito para o 2º mandato.

Abraço

Marcos Caldeira disse...

Hoje, quando cheguei pela manha ao escritorio em BCN, um companheiro de trabalho perguntou-me "has ganado o perdido"... respondi que estava contente. A verdade é que o facto de nao existir uma maioria, e ser possivel fazer acordos pontuais com todos os partidos, levará a decisoes, mais claras, mais explicadas, mais universais e sobretudo sem conceçoes loucas, com ideias opostas à maioria...