sábado, 19 de setembro de 2009

Belémgate.


É da autoria do Professor Cavaco Silva a introdução, e mesmo a criação, do conceito político de “tabu” no léxico nacional. O “tabu”, não é apenas aquele jogo de esconde que o Presidente tanto gosta de jogar de cada vez que as coisas afiguram-se virem a correr-lhe mal. O “tabu”começa pela produção, ou antecipação, de determinado acontecimento, real ou virtual, que terá suposta força para condicionar não só o futuro do protagonista (Presidente Cavaco Silva) mas essencialmente o futuro de umas eleições (hoje como em 95 - as eleições legislativas).

Em 1995 demorou em lançar a bomba (da não candidatura). O seu partido, o PSD, passou da maioria absoluta para o calvário que ainda hoje atravessa. Com a “demora” e discurso ambíguos minou quaisquer hipóteses de uma sucessão condigna, e nestas condições, o mínimo que lhe era exigível, tanto por apoiantes como pelos opositores, era que se submetesse ao julgamento popular, mas não foi assim.

Agora assistimos de camarote ao remake da mesma cena. Nesta história das supostas escutas em Belém apenas o Presidente parece ter alguma informação e capacidade de condicionar a agenda e o ritmo a que as informações vão passando para a opinião pública. Atenção: estamos a 8 dias das eleições!

Fundada ou infundadamente, o Presidente da Republica, quis criar um facto político superveniente em vésperas de umas eleições que podem entregar o poder absoluto à direita.

A questão não é de somenos, segundo fonte da casa civil da Presidência da Republica autorizada pelo próprio, o Presidente desconfia(va) estar sob escuta do Governo! E o que fez o Presidente?

Chamou o Primeiro-Ministro a Belém? Não.

Convocou o Conselho de Estado? Não.

Sequer confirmou oficialmente o teor da notícia que sub-repticiamente mandou publicar no jornal Público? Não.

Oferece a “cacha” a um jornalista “amigo”, que espera o momento em que a popularidade do Governo atinge mínimos da legislatura para lançar a atoarda (apesar de ter dados oficiais que desmentem a fonte primária, mas que ignora ostensivamente como o refere o próprio provedor dos leitores do jornal Público).

Depois, confrontado com a exposição pública do problema aconselhou os portugueses a não desviarem a atenção dos portugueses dos verdadeiros problemas do país. E assim, temos tido no último mês e meio a líder da oposição a cavalgar a suspeita da alegada asfixia democrática de que o país a seu ver está a ser alvo, com a Presidência a assobiar para o lado.

Pelo que sabemos hoje, Belém terá pedido um despiste de escutas aos serviços de informação do exército que terá terminado sem nada revelar de irregular. Nada está provado ou sequer existem indícios palpáveis de alguma vez terem existido escutas em Belém, quanto mais que estas tenham sido promovidas pelo Governo.

Comprovado por este episódio é o retorno do “tabu”. O retorno do sacrifício do interesse público às mãos da agenda particular do Professor de Boliqueime. Em 1995 o objectivo do então Primeiro-Ministro, foi tentar passar entre os pingos da chuva do desastre governativo em que se tinha transformado o polvo laranja, de forma a propiciar uma candidatura presidencial que havia de perder para Jorge Sampaio.

Neste Verão o objectivo claro, tanto do lançamento da notícia do silêncio seguinte foi sustentar o argumentário difamatório pré-eleitoral da sua ex-ministra.

Independentemente de vir a provar que está a ser escutado, o que esta sucessão de episódios comprovam é que o Presidente da Republica preferiu conspirar contra o Governo, manipulando a comunicação social com a seguir as vias legais e institucionais.

E agora ou a Presidência prova rapidamente o que fez transpirar para a comunicação social, ou estaremos na presença de um dos golpes mais baixos alguma vez desferidos na história da democracia portuguesa vindo precisamente do mais alto magistrado da nação. Se assim for, o mínimo que o Presidente da Republica deverá fazer é não fugir de novo ao plebiscito, para que o povo prenuncie sobre quem recorre a semelhantes artimanhas.

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