terça-feira, 21 de abril de 2009

Num país imaginário…


...o Benfica seria campeão todos os anos, e dois em cada 3 cidadãos já teriam acertado nos números do euromilhões. Feliz e infelizmente, respectivamente, Portugal é um país bastante real, e a própria tradição mítica do império perdido faz dele o país real que de facto é.
Somos uma identidade colectiva pequena e humilde mas que nunca perdeu os laivos de grandeza. Talvez por isso mesmo, julgamos ter direito a mais do que aquilo que merecemos.
Não há forma de nos revermos numa meritocracia. Por muito esquerdalhos que sejamos, até na esquerda procuramos e encontramos as nossas “famílias”.
O divã da nação está gasto e eu não quero ir por aí.
Certo é, que valorizamos mais o habilidoso que o engenhoso. Em Portugal o invejoso goza sempre de mais credito que o generoso. Como povo, transigimos com os ladrões, mas desconfiamos dos beneméritos.
É por estas e por outras razões, que em Portugal, ser Ministro da República é muitíssimo menos prestigiante do que ser Presidente de um qualquer clube de futebol. Talvez pelas mesmíssimas razões, o serviço público acaba por atrair um número bastante razoável de pequenos wanna be grandes tratantes.
Cada um há sua maneira, Santana Lopes e José Sócrates têm todas as características para serem alvos fáceis de numerosas invejas e especulações. Em termos meramente formais, os seus percursos políticos e académicos não foram lineares e acima de qualquer suspeita. As suas vidas privadas, por não corresponderem aos ditames da “nossa moral católica”, também dão azo às fantasias dos sonsos do regime. Até o simples facto, de ambos terem uma boa presença física, de terem chegado ao poder relativamente jovens, colide com a “ordem natural das coisas”. Pelo caminho ultrapassaram muitos “Senadores” gordos e pré-enfermos que nunca os perdoaram ou perdoarão.
O silogismo é simples, se os ditos “Senadores” eram mais experientes e inteligentes, portanto mais capazes de fazer aquilo, que no final, apenas estes “jovens” fizeram, então o defeito não pode estar na incapacidade dos “Senadores”. A capacidade que estes “jovens” têm de jogar com outras regras que não as devidas, é inaceitável para quem ainda aprendeu a tabuada à reguada.
De resto, somos todos apenas e só simples vitima da nossa pequenez, até José Sócrates e Pedro Santana Lopes. Somos todos vizinhos e primos uns dos outros, e todos semi-confidentes das meias histórias em que vamos tropeçando.
Um divorciado de 40 anos, que chega a casa de madrugada é um forte indício de pratica pecaminosa, já quando é um septuagenário, ou foi ao aniversário dos netinhos ou teve um problema de saúde.
Um técnico de uma Câmara Municipal do interior do país, que em 20 anos vem das Beiras e chega a Primeiro-Ministro é de certeza corrupto, já quando o PM é um professor universitário que assina pareceres que não faz nem leu, que ensina a gestores e empresários todo o tipo de engenharia financeira, é congenitamente sério.
Não acredito em metade das histórias que se contam sobre Santana ou Sócrates, da mesma forma que acho extremamente improvável que absolutamente tudo seja uma maldosa invenção.
A pequenez faz parte do código genético de um pais que não é grande.
Portugal é o país real que convive mal com quem de tempos a tempos nos faz imaginar como tudo poderia ser muito diferente se fossemos todos tão ambiciosos como Santana ou Sócrates.
Resta julgarmos os resultados da acção politica dos Senadores, de Santana ou de Sócrates. E aí não há equiparação possível!
Indubitavelmente José Sócrates é o mais dinâmico e reformador Primeiro-Ministro da nossa democracia. Santana Lopes talvez tenha sido o pior PM de sempre. Pelo meio passaram vários “Senadores” que nos legaram os cancros económicos e sociais com que sofremos hoje.
Há falta de melhores argumentos, e para não sofrerem a derradeira humilhação da comparação comprovada, José Sócrates é o alvo escolhido por todos aqueles que falharam antes dele.
Regra de ouro da natureza sociedade lusa (de negócios e não só): a mediocridade protege-se! Não é fruto da minha imaginação.

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