terça-feira, 31 de março de 2009

Obama em Portugal


David Plouffe cobra 50.000 USD por conferência. A ensinar alguma coisa? Não. A vender bem quem o convida? Sim.
No ano de todas as eleições, a Cunha Vaz & Associados promoveu uma conferência sobre os “Movimentos de Base no sec. XXI”. Orador principal: David Plouffe, um dos masterminds por trás do êxito eleitoral de Obama.
O timming é perfeito. Cunha Vaz traz a Portugal o “feiticeiro” americano, no preciso momento em que os principais partidos políticos e candidatos a autarcas contam os tostões para verem que campanha podem “comprar”.
Melhor cartão de visita é impossível.
Mas que receita veio dar afinal David Plouffe?
O papel das novas tecnologias? Como o próprio afirmou, são meras ferramentas e “quando a campanha de Obama arrancou ainda nem havia Twitter”.
“Nothing really special”, ouviu-se o mais que batido slogan da mudança alicerçado numa estratégia de comunicação entre pares.
E é na estratégia que reside a razão pela qual os ensinamentos de David Plouffe não têm qualquer aplicação pratica ao caso português, e, como tal, a sua presença não passou de mais uma manobra de propaganda da eficiente agência de comunicação de Cunha Vaz.
Uma campanha estilo Obama não exequível em Portugal, simplesmente porque ainda está para nascer o Obama português.
Falamos do Portugal em que vivemos, o Portugal dos doutores e engenheiros, o Portugal das personalidades sem nome próprio mas com 6 apelidos, o Portugal da imaculada aliança dos primos e afilhados.
Portugal ainda é avesso aos mais elementares princípios da moral republicana que foram o caldo de cultura para o êxito americano. Uma sociedade laica, iluminista onde a razão prima sobre qualquer titulo nobiliárquico ou herança histórica.
Com honestidade, respondam a esta questão - qual dos lideres políticos portugueses aceitaria abrir a porta da sua casa, contar as desventuras e dramas da sua família na primeira pessoa, ou passar o dia das eleições num churrasco com os amigos rematado por uma partida solteiros contra casados a seguir à hora da sesta?
O mais perto que tivemos deste politico “como nós”, foi com Pedro Santana Lopes. Mas aí a proximidade só lhe evidenciou os defeitos de que já sabiamos padecer.
Em Portugal, não existirá “par” para esta campanha sem o elemento essencial e insubstituível: o candidato!
Páginas de internet com o layout copiado da página oficial de Obama são um esforço inócuo e risível.
A verdadeira lição que podemos retirar das presidenciais americanas é que contra um conteúdo real qualquer formato virtual está condenado ao fracasso. Obama, foi esse candidato virtuoso e real, não precisou de maquilhagens biográficas ou que escrevessem por ele os seus discursos com que empolgou a América.
Nós por cá, não deveremos copiar Obama sob pena de perdermos muito na comparação, e perdermos ainda mais em genuidade.
Porque o povo tem sempre razão mesmo quando se engana... e o que é falso “tem perna curta”.

3 comentários:

MA disse...

Como é que se explica a eleição duas vezes de G. W. Bush?

Nuno Félix disse...

Pesquisa "Bushism"... queres gajo mais "real" e à sua maneira carismático do o W? O caloiro do ano na faculdade, o dandy do Texas. Olha, sem olhar ao que andou a fazer pelo mundo fora é bem menos plástico do que o Al Gore ou um John Kerry

Sara Batalha disse...

E se os "americanos do Media Training" já estivessem em Portugal (mas ainda em low profile), adaptados à nossa realidade, liderados por uma portuguesa de gema e a ensinar os clientes que escolhe? Sem convites!
;)