sexta-feira, 27 de março de 2009

O valor do silencio



O silêncio não raras vezes revela mais do que aquilo que esconde.
O silêncio sempre foi significado de poder. E toda a gente o sabe desde os bancos da escola.
Não é fácil fazer silêncio. Quem nunca partilhou silêncios desconfortáveis e alguns mesmo impossíveis, por muito que fossem desejados Tantos que por muito tentarem sem sucesso, acabam por desistir e fazem do ruído a sua arma.
O silêncio é a excepção. E cada vez mais o é. Manuela Ferreira Leite, velha guarda do tempo em que o Governo ia à Assembleia da Republica de mês a mês, e quando ia, sabe-o melhor que ninguém. No nosso país o silêncio de um chefe de governo já rendeu 48 anos de regime.
O silêncio é contudo uma promessa, um augúrio, desperta-nos a atenção, ilumina-nos de expectativas, expectativas essas que redundam em desejos que muitas vezes nem sabemos bem gerir ou compreender. Foi este o efeito que os assessores de MFL quiseram criar após a sua eleição para Presidente do PSD. E ao contrário do que é agora senso comum, a estratégia era a correcta. Contra um Governo extremamente competente (até à crise…) no preenchimento da agenda pública com imensa informação, o PSD contrapunha com o poder de quem domina o silêncio.
Verdade é, que todos os silêncios são interrompidos, e é esse o momento que valoriza toda espera precedente.
Os resultados do seu uso pelo PSD são desastrosos. Já o foram no tempo do tabu do Prof. Cavaco Silva, e voltaram a sê-lo com MFL. Mais do que de um verdadeiro silêncio, em ambos os casos o que assistimos foi a um amordaçar de gemido, que mesmo assim não deixava de zumbir sub-repticiamente. Em ambos os casos foi falso, nada teve de sedutor, prolongou-se muito para alem do razoável e acima de tudo no momento da sua morte, o silêncio foi substituído por uma medíocre tentativa de encantamento por via da mentira e da simulação. Silêncios fúteis.
No momento em que a mordaça caiu, a catedral do silêncio desabou e no seu lugar ficou um ensurdecedor pardieiro.
O PS, é sabido, nunca conviveu bem com o silêncio. Voltou a demonstra-lo recentemente, com resultados que, para já, são tudo menos brilhantes. Assuma-se uma coisa de uma vez por todas, o PSD é o partido dos silêncios medíocres o PS o partido dos silêncios impossíveis.
Diz-se que o silêncio é de ouro. Mas a extracção, fusão, moldagem, polimento do metal são processos deveras ruidosos e por vezes sujos. É o que é necessário para transformar o calhau na jóia.
O jantar é romântico, estão só os dois, ele escolhe o momento para ofertar o anel de noivados, e faz questão de relembrar insistentemente a plenas pulmões, que a lustrosa jóia não passava de um frio mineral?! Que futuro para esta união…
As parábolas, valem o que valem, o que de nada vale é pedir silêncios e seguir a assobiar.
PS e PSD façam o que tiverem a fazer, mas sejam coerentes, o silêncio no bloco central é impossível, transformem ao menos o imenso ruído de fundo, na melodia de um entendimento que não se percebe o porquê de não existir.
O povo apenas pede para não continuarem a depreciar a verdadeira jóia, a nossa Democracia, e que permeio não arrastem na sua queda os seus melhores servidores e criadores.

Post-scriptum: O silêncio é de ouro, mas foi o ouro que matou o Rei Midas, por tudo querer para si.

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