quinta-feira, 26 de março de 2009

Não é fácil...


...vencer Santana Lopes ou ser Santana Lopes?
As das duas realidades não são fáceis.
É difícil vencer Santana Lopes porque Santana Lopes é como é. E não é fácil ser Santana Lopes porque Santana Lopes é mais uma pessoa “normal” do que o são a maioria dos seus opositores e críticos. A normalidade da falha, com que convivemos quotidianamente mas da qual a maior parte do políticos parecem virginalmente imaculados, em Santana Lopes roça tanto a virtude como o escárnio.
Dificilmente haverá politico mais caricaturado que SL. E porquê? Porque é pura e simplesmente o mais caricaturável. O essencial da caricatura reside na ampliação não do defeito, mas da característica, e características demarcantes são coisa que não falta à vida pública de Santana Lopes. Mas porquê? Porque ao contrário do que é pratica corrente na vida politica nacional, Santana nunca escondeu a sua esfera privada do crivo público. E convenhamos, 5 filhos de 3 casamentos falhados, presidências atrás de presidências sempre com mandatos prematuramente interrompidos à frente de algumas das maiores instituições nacionais…
Mas o povo gosta dele. Salvaguardadas as devidas distâncias, é sempre possível encontrar em Santana algum traço de carácter que reconhecemos num familiar, num amigo, num vizinho ou em nós mesmos
Não lhe gabo os danos colaterais que toda esta exposição lhe tem causado. Mas esse também é o seu charme, a sua derradeira prova de que é diferente!
E hoje em que estado se apresenta a combate com António Costa?
Mais “Calimero”, ou mais “Enfant Terrible”? Ou será até, que a lavagem do tempo, reciclou a memória da sua passagem pelo Governo? À luz da degradação da vida partidária contemporânea, não me parece improvável o assomar de um certo saudosismo, saudável, de uma certa forma de fazer politica.
Para a disputa da Câmara Municipal de Lisboa, apresentam-se a votos duas personalidade bem menos planas do que aquelas que disputam a governação. António Costa, também é um politico genuíno e de grande vocação para o combate publico, mas parte por comparação com um inesperado handicap: notoriedade! Por incrível que pareça, António Costa é capaz de ser hoje mais anónimo para os lisboetas do que o era como Ministro de Estado de José Sócrates. E o Santana? Santana é Santana!
A escolha do próximo Presidente da Câmara de Lisboa será bem mais emocional que racional. Ambos ao seu estilo, e com dificuldades diversas, deixaram uma marca positiva nos seus curtos mandatos camarários. Neste contexto levará vantagem quem tiver mais sucesso na resposta individual que cada um munícipe der a cada uma destas duas perguntas:
- A qual dos dois comprava um automóvel usado?
- Com qual dos dois deixava o seu filho durante um fim-de-semana?
Surpreendidos?
Responda com sinceridade e encontrará “o seu candidato”, agora se a isso corresponderá o seu voto… só a si diz respeito. Uma coisa é certa se tiver tendência a responder António Costa e Pedro Santana Lopes por esta ordem respectivamente. Então está perante um dilema, melhor Presidente para a Câmara ou o Presidente de quem gosta mais?
Se não é fácil ser Pedro Santana Lopes! Não é fácil ser contra Pedro Santana Lopes.

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Nuno,

Não posso deixar de me surpreender com este teu estado de incrível ofuscamento pelo gloss de Santana Lopes.
É que nunca compreendi o seu evidente magnetismo, quase catársico e, na minha opinião, irracional. Nunca entendi que característica/s da sua personalidade o tornam tão apelativo. Se calhar o problema está apenas em mim, mas não imagino Santana Lopes a liderar qualquer instituição da Finlândia. Do Brasil, sim, de um país civilizado, não.
Admito que Santana Lopes representa uma certa maneira de estar na política. Mas será a maneira correcta? Mandatos interrompidos, dívidas deixadas como herança, episódios rocambulescos qb. - estamos a falar do primeiro PM cuja primeira medida assim que chegou ao governo foi tirar férias! Estamos a falar do primeiro PM que convocou uma conferência de imprensa para afirmar solenemente em nome de todos os santinhos e de Sá Carneiro (deus-o-tenha), que no dia anterior não tinha ido para casa dormir uma sesta.

É certo que não consigo ter especial apreço por António Costa, mas reconheço-lhe suficientes virtudes para lhe comprar um carro em segunda mão ou para lhe deixar os filhos que não tenho durante um fim-de-semana. Com Santana Lopes não tenho qualquer intenção de interagir nem para saber que horas são. O mais provável era ele não ter relógio porque o pôs no prego para pagar a conta do Gambrinus.
Imagino que não seja fácil ser Santana Lopes. Tanta orquestração deve dar algum trabalho e viver dos croquetes das festas não deve fazer nenhum bem à saúde. Já ser contra ele é relativamente fácil: basta ter uma qualquer ideia de seriedade e trabalho, acordar antes das três da tarde ou por e simplesmente pensar que o exercício da política é um bocadinho mais do que ganhar os congressos do PSD.

Luís Viegas disse...

Excelente Artigo, Nuno Félix. Se é fácil divergir de NF, não é fácil escrever como NF. Um forte abraço!

Luís Viegas disse...

Jorge, as minhas desculpas por tamanha indelicadeza ( facto de não te ter saudado). Claro que gostei de te ler, ainda mais aqui na nossa "Gaiola". Aparece sempre! Um abraço.

Nuno Félix disse...

Sim... acho que este comentário merece um convite.
Q me dizem, restantes papagaios?