sexta-feira, 30 de maio de 2008

Como uma pestana na garganta.


Não fazemos melhor porque não sabemos, porque não podemos, ou porque não queremos?
A resposta patrioticamente correcta será: por todas as razões acima enunciadas, dissociadas e em conjunto.
Ser português é isto mesmo, somos todos tenores em aquecimento de voz numa antecâmara de um Scala qualquer, mas sem o chá de pétalas de rosa à nossa espera no camarim, e sem este não nos livramos “daquela” mesquinha rouquidão, que nos impede de chegarmos “aquela” oitava.
Como em Portugal, “quem não tem cão caça com rato”, damos um trago no Licor Beirão ignorando que o consumo de bebidas alcoólicas diminui a elasticidade das cordas vocais na medida em aumenta o risco de enquistamentos crónicos das mesmas.
Alguém mais evoluído, mais “europeu”, avisa-nos:
- Cuidado, não vão por ai que ainda dão cabo de vez da vossa voz que é tão bela mas que tem sido tão mal tratada, guardem-na para quando realmente precisarem dela.
Para nosso conforto e moral, oferecem-nos bilhetes para assistirmos ao espectáculo na 1ª fila (afinal demos ovos imundos ao mundo!!!). Agradecidos, sentamo-nos.
Reparem só nesta maravilha, não pomos em risco a nossa saúde, não damos o corpo ao manifesto e ainda ganhamos um bilhete que será a "inveja" de muita gente… durante 2 horas!
O espectáculo começa. Sala cheia.
O primeiro tenor terá uma noite de glória e ovação. Basta não falhar nas notas.
Surpresa! Quem sobe ao palco, e na nossa récita é esse alguém “mais europeu”. Falta-lhe a nossa alma, o nosso encanto, mas no nosso lugar cumpriu. O nosso amigo “europeu” não fraquejou.
As palmas são a torrente em que se banha.
A gloria para quem a procurou!
A temporada será um êxito e até prevê-se uma digressão pela Turquia!
Ok, "o que lá vai lá vai", "até que nem foi mau de todo".
Tivemos um bilhete subsidiado a fundo perdido, mas também não recebemos o contratado pelo que seria o nosso trabalho.
O espectáculo foi bom, mas batemos as palmas que eram para nós.
Não arriscámos a nossa voz, mas também ninguém a ouviu.
Mas pronto, era mesmo impossível subirmos ao palco naquele dia, afinal de contas, estávamos roucos.
Espera, afinamos um pouco a garganta, uma sensação estranha aflora por trás da língua, puxamos pelo muco que nos humedece as apropriadamente denominadas mucosas, é um ligeiro incomodo, como uma pestana na garganta, et voilá: era mesmo uma pestana!

A nossa rouquidão não existia. Nós não quisemos arriscar! A resposta é a terceira opção!

É mais fácil justificarmos o insucesso do que arriscarmos o sucesso!

Ámen!

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